Quem viveu no interior como eu vivi, até os vinte anos, sabe avaliar a personalidade do ministro Palocci. O ministro da Fazenda, médico de formação, é tipicamente o homem simples do interior, que conheci num passado remoto, de um cenário que em geral mudou pouco.
O ministro Palocci é como Itamar, também homem do interior, mas de Minas Gerais. É amigo dos amigos, médico acessível aos humildes, desses que não cobram consulta dos pobres.
O ministro Palocci está com crédito garantido - sem trocadilho primário - no mercado, ainda que não demonstre estar interessado numa alternativa ao combate à inflação, herdada do Plano Real, da dupla Itamar e Fernando Henrique.
Mas, o ministro e o presidente do Banco Central preferem, por medida de segurança teórica, a rotina do já conhecido e já sabido, que dispõe de espaço de manobra com os juros que o mercado, infelizmente, já assimilou.
O ministro, que deixou por algum tempo o chopp do Pingüim pelo tristonho gabinete, vai conduzindo o barco Estado na difícil área da economia e finanças, com a esperança de acertar. Como homem do interior, conhecendo, como conhece, os pequenos empresários de seu habitat de Ribeirão Preto e cercanias, não quer, sem dúvida nenhuma, assustá-los, pois tem exata noção da luta de cada dia dos heróicos. É bem o termo dos comerciantes, pequenos industriais e agricultores de nosso país.
Não podia ser diferente a sua entrevista sobre a sua participação na política, como prefeito da Califórnia de São Paulo e do Brasil. Palocci, na minha opinião e na de tantos que o conhecem, é o homem simples, sem pretensões maiores do que a altura a que chegou. Tratar de arranjar doação de campanha é o que há de mais normal, entendida esta palavra no seu sentido político, diferente do filosófico.
Palocci está absolvido, para a tranqüilidade do mercado. Ainda bem.
Diário do Comércio (São Paulo) 26/08/2005