Não sei nem quero saber quem inventou a mania de comemorar os centenários. Mas já que eles existem, devemos comemorá-los com boa vontade, eles podem nos ensinar coisas inúteis, como por exemplo, numa certa tratoria de Nápoles, foi feita a primeira pizza marguerita.
Ensina também coisas úteis. Neste ditoso ano de 2002 teremos centenários importantes: o de JK, Carlos Drummond de Andrade, Sérgio Buarque de Holanda, Lúcio Costa e até os 100 anos do meu time, o Fluminense, que atravessa boa fase.
Nem devemos esquecer o centenário da Universidade Cândido Mendes, pioneira em muitos setores do ensino superior no Brasil, e torcer para que possamos comemorar o centenário de seu atual reitor, Cândido Mendes. Consegui a notável proeza de ser colega dele num vestibular, no CPOR e agora na ABL.
Mas se devemos comemorar centenários, com maiores razões devemos comemorar os bicentenários, e, felizmente, o Sérgio Paulo Rouanet, nesta semana, em ensaio publicado no Mais, festejou os 200 anos de Victor Hugo, que um dia será considerado como o gigante do seu século.
Passou de moda admirá-lo como poeta e romancista. Até mesmo como o homem corajoso que, no 2 de dezembro, colocou no peito a faixa tricolor e foi para a barricada, defender a legalidade.
Li, não sei onde, um artigo espinafrando Castro Alves. Entre os insultos, o articulista disse que o poeta baiano não passava de um Victor Hugo tropical.
Sei da existência de um Faulkner do Piauí e muito honrado ficaria se me chamassem de Flaubert do Lins e Vasconcelos. Mas voltando a Victor Hugo: a sua poesia pode ter saído de moda. Poetas que vieram depois mudaram até mesmo a forma e o conteúdo do poema.
Mas o romancista continua insuperável. Construiu verdadeiras catedrais e, daqui a 200 anos, algum ator que ainda não nasceu fará o Corcunda e o Jean Valjean.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em 18/07/2002