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Previsões Falhas

 

Os chineses, que são descendentes de uma cultura milenar, são hábeis em criar provérbios. Têm um de que gosto muito, este: "Não devemos fazer previsões, principalmente sobre o futuro".


Escrevi nesta coluna que José Dirceu se preparava para ser o próximo candidato à Presidência da República. Está aí. Sua queda, provisória ou não, deve afastá-lo do centro de decisões políticas, pois Lula dá a impressão de que está aprendendo a governar, que é muito mais necessário do que passear de avião para baixo e para cima. José Dirceu, se perder a proteção do chefe, não passará de deputado, podendo, mesmo, ser oposicionista, embora se duvide.


Mas não fico nisso nas minhas previsões, embora espectador não engajado, como Raymond Aron. Mas não mudo depressa de opinião sobre políticos. Não obstante a política seja uma megera terrível, que devora os próprios filhos - é esse, mesmo, um lugar comum da política. O frustrado José Dirceu não ficará no ostracismo muito tempo. Dentro de dias, ou de meses, nunca se sabe, Lula abraçará Dirceu, os dois farão as pazes e a ambição do político volta dançando, alegre de privar, de novo, com o chefe adorado. É esse, como se sabe, o quadro que nos mostram os políticos de todos os partidos e de todas as formações sociais. Como a mediocridade é a regra no regime de eleições proporcionais, que ninguém na Câmara, quer mudar. É o que vamos ver dentre em breve.


Mas, ao menos, no proscênio da crise em que a política nacional está metida, um parece que se desligou, deixando a presidência do conselho de ministros de fato, não de direito, pois estamos no presidencialismo, que só funcionou bem até hoje na sua pátria de origem, os Estados Unidos.


E, com a próxima provável volta de José Dirceu abre-se a ambição presidencial no ambicioso político, que deseja coroar sua carreira com a Presidência da República.


Lembro-me do provérbio chinês e digo, quem viver verá.




Diário do Comércio (São Paulo) 04/07/2005

Diário do Comércio (São Paulo), 04/07/2005