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Envelhecer e morrer é caro

 

A conceituada revista Digesto Econômico , número em circulação, referente a maio e junho, traz um artigo de Sérgio Cabral sobre o custo do envelhecimento. É impressionante como envelhecer, isto é, a vida depois dos 60 anos, torna-se de padrão mais baixo do que antes dessa idade-limite, para serem as pessoas consideradas idosas, e em seguida, acrescento aos argumentos do articulista, a morte.


É também caríssimo morrer, tais os custos de um enterro que não seja de indigente. Pobre Brasil; nesta nossa pátria amada do Hino Nacional é obrigatório ser, ao menos, remediado, para poder morrer.


Não estou sendo exagerado na glosa do artigo do colaborador da prestativa revista, mas é que a realidade age como um estilete na carne. O pior é que não há para quem apelar, pois a Previdência Social está quebrada e não pode aumentar as aposentadorias, sob pena de ir à bancarrota.


Não é o que se passa em grande número de países. Na França, que conheço bem, a aposentadoria é obrigatória aos 70 anos. Todos se vão a repousar, mantidas as regalias proporcionadas durante o trabalho ativo. Sei, muitíssimo bem, que a nossa situação é diferente de um país altamente desenvolvido, onde a política social do governo é exercida com honestidade, rigor e técnica quase perfeitos. Mas, estamos muito longe de podermos atender aos interesses dos aposentados, sobretudo os que ganham uma miséria, a maioria.


Voltamos, então, ao ritornelo : é muito caro envelhecer em nosso país e muitíssimo cara a morte, com a obrigação dos parentes e familiares pagarem o tratamento final, o velório e o enterro. Como não é possível fugir das obrigações, muitas vezes os sobreviventes não dispõem de meios para pagarem as despesas.


Essa uma das dores que recaem sobre os parentes não munidos de recursos suficientes. E onde deve entrar a solidariedade dos amigos, graças ao espírito das classes populares. Nos tempos da caridade, hoje praticada com dificuldades financeiras pelas Santas Casas, notadamente a de São Paulo, que atende 6 mil pobres e necessitados por dia.


É preciso o leitor saber que o SUS, obrigado pela Constituição de 1988, não cobre todos os gastos do Seguro Social, dependendo da boa vontade e generosidade dos compreensivos.


São esses dois problemas, a meu ver insolúveis, ou até o horizonte onde perscruto penso ser insolúvel.




Diário do Comércio (São Paulo) 05/07/2005

Diário do Comércio (São Paulo), 05/07/2005