Não engrosso a turma dos que acreditam próximo o fim de mundo institucional em nossas bandas. Que as coisas estão complicadas, estão. Muito vexame e até mesmo uma espécie de baile fiscal caipira, com a festa junina (em julho) promovida por Lula na Granja do Torto. (Por falar em Torto, lembro que Guimarães Rosa, entendido no assunto, em lugar de Diabo, Satanás ou Demônio, preferia chamar o Pai das Trevas de "O Torto").
Mas vamos lá. A menos que surja um fato realmente novo, além e acima da corrupção, que só tende a aumentar de grau, mas não de gênero, ficaremos com as sobras do furacão desencadeado pelo deputado Roberto Jefferson nas duas vias em que trafega a crise atual: os que são acusados e aquele que os acusa.
Mesmo assim, muitos carros e carroças ficarão para sempre atolados no lamaçal, e aqueles que se salvarem -principalmente o presidente Lula- terão de cumprir o resto do caminho avariados pelos respingos da lama que sobrou para todos no atual governo.
E aí começam as perguntas que não escondem a cultura do golpismo, que é doença crônica em nossos pagos latino-americanos: "Onde estão os militares?". No fundo, todos sabemos onde eles estão - o que, além de representar a normalidade democrática, é um alívio. Após a experiência de 64, eles estão de crista baixa - e é salutar que continuem assim. Devem deplorar o lamaçal como todos nós, civis e incivis, deploramos. Mas não se sentem motivados a deixar os quartéis em nome da moralidade pública. Também eles enfrentam, internamente, problemas idênticos ou análogos.
A atual crise política até agora não transcendeu a lama. Ficou nos pés que chafurdam no atoleiro. Não chegou ainda ao confronto ideológico. Tudo ficará mais complicado se, por exemplo, o MST entrar na briga, por conta própria ou por convocação do próprio Lula. Aí, sim, a coisa ficará mais feia.
Folha de São Paulo (São Paulo) 05/07/2005