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Um santuário florido

 

A pouco menos de uma hora de Paris, numa região paradisíaca, é possível encontrar um dos maiores santuários floridos do mundo. Em Giverny viveu o pintor Claude Monet (1840-1926), o maior representante do que se convencionou chamar de escola impressionista. Atacado pela catarata e sem coragem para se operar, utilizou os jardins da sua casa como inspiração para quadros que ganharam admiração internacional.


Sua casa está preservada (hoje sob o controle da Academia das Belas Artes, do Instituto de França) e os jardins, cuidados por experientes profissionais, são realmente espetaculares. Eles se estendem ao lago das ninféias, a que se chega por um túnel subterrâneo, construído graças a um expressivo donativo de Walter Annenberg. O sentimento predominante, nos momentos vividos naquele espaço, é de emoção. As pontes verdes são clássicas, transportando o visitante não só para novas surpresas, mas para um mundo de rara beleza. O poeta não se conteve:


"Rosas brancas, vermelhas, amarelas,

Todas imponentes, abertas e belas.

Sem contar as rosas bem rosas,

Do jardim as mais cheirosas."


Outra comovente atração é a presença de escolares. Sempre guiados por uma professora, grupos de adolescentes, com tabuletas à mão, serpenteiam pelos jardins, fazendo preciosas anotações que serão depois discutidas em classe. Eles não usam uniformes, tanto que no meio dos grupos apareceu uma bonita camisa amarela da seleção brasileira. Com o número do Ronaldo. A festa, naturalmente, tornou-se ainda mais colorida.


Burle Marx e Di Cavalcanti


A nossa mente, naquele ambiente, voltou-se para o Brasil. Não é que nos falte um Monet. Temos os nossos mitos. Mas é raríssimo preservar o ambiente em que nossos artistas trabalharam. Exceção para Burle Marx e o seu sítio em Barra de Guaratiba. O que dizer, por exemplo, dos locais em que trabalhou o nosso extraordinário Di Cavalcanti? Onde estão?


O cuidado na França (região da Normandia) é tão grande que são também preservadas, por um trabalho minucioso, as gravuras orientais que acompanharam a vida de Monet. Ele era fã da cultura japonesa. Os habitantes da cidade de Toyohashi, em retribuição, fizeram todo o replantio das azaléias do imenso jardim, em 1998, como a dizer ao Mestre "muito obrigado".


No lago, os mesmos chorões de épocas passadas, o barco que figura em alguns dos seus quadros, as ninféias de tantas histórias, amores e lendas. Elas nos remetem às nossas vitórias-régias, igualmente fascinantes, na sua imponência. Foi mais ao final da vida que Monet utilizou as grandes decorações das ninféias, com o que o seu amigo Clemenceau classificou de "familiaridade do olho com as ginásticas luminosas, alcançando todas as nuances de todos os tons."




Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 10/07/2005

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), 10/07/2005