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A tradição tem seu lugar

 

O problema é antigo e até foi muito citado, quando houve no Brasil, nos idos de 68, a chamada Reforma Universitária. Criou-se no ensino superior o 1º Ciclo, que seria uma espécie de revisão necessária de conhecimentos indispensáveis, básicos, para que o aluno pudesse se encontrar de forma natural com as lições próprias do ensino superior.


Para dar clareza ao pensamento: alunos alcançavam (e hoje isso é muito pior) a universidade sem ter o mínimo de condições de absorver as aulas de seus mestres, pois lhes faltava (ou falta) a base correta. Essa verdade serve também para os que, demagogicamente, desejam apressar a formação das crianças, com o ensino por meio de ciclos. O resultado é uma vergonha conprovada: a maioria dos educandos atinge a quarta série sem saber quase nada, com dificuldades inclusive para ler, escrever e raciocinar criticamente. De que adianta o sistema de ciclos se o resultado é esse?


Com tanta novidade por aí - e pessoas aparentemente lúcidas condenando os conservadores, que seriam os tradicionalistas - esquece-se o conteúdo que deve ser privilegiado na escola, a formação dos cidadãos passou a ser quimera dificilmente alcançável. Cantar o Hino Nacional, por exemplo, é um constrangimento a que o jovem não deseja se submeter. O que essa gente, afinal, que se diz pertencer ao grupo de educadores de vanguarda, tem na cabeça?


Quando se discute o assunto, como fizemos nas Faculdades Metropolitanas Unidas, de São Paulo, surge a questão que não deixa de ter o seu relevo: "Como mudar o ensino médio, calcando mais na formação do indivíduo, se é preciso preparar os alunos para os macetes do vestibular?" Isso não pode ser a causa determinante de uma atitude que, em geral, cabe mais aos próprios professores. De outro modo, a crise permanecerá, aprofundando o abismo que nos separa da qualidade do ensino, de forma geral.


Um dado essencial: enquanto algumas escolas estão inebriadas pela nova pedagogia, todas as que, pela tradição, permaneceram fiéis às suas origens, ocupam os primeiros lugares nas classificações que são periodicamente organizadas, a revelar uma verdade incontrastável. Isso no Rio e em São Paulo é visível a olho nu. Como se explica o fenômeno?


A febre dos cursinhos foi decorrente da excessiva massificação, ocorrida sem muito planejamento e controle. Tem-se a sensação de que precisamos de um número ainda maior de estudantes universitários. Mas não de qualquer estudante, que busca apenas o diploma de nível superior, sem a preocupação de se formar adequadamente para um mercado cada vez mais exigente. Se hoje tivéssemos 5 milhões de universitários - e estamos caminhando para isso - não haveria muitas razões para comemorar o feito. A quantidade, às vezes, é inimiga da qualidade.


Em lugar de estarmos testando metodologias que fizeram sucesso lá fora, em países superindustrializados, deveríamos buscar nos livros e na força da leitura sistemática recursos para valorizar o que é nosso, juntando as conquistas da tecnologia, como é o caso da Internet, com os admiráveis valores que se encontram em obras notáveis de brasileiros ilustres, hoje quase ignorados por professores e alunos.


 


Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em 11/08/2002

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em, 11/08/2002