Tem a palavra o nobre deputado João Pederneiras Trancoso, que disporá de dez minutos para inquirir a testemunha.
"Senhor presidente, senhoras deputadas e senhores deputados. Não é possível continuarmos assim, com a pátria enxovalhada, a corrupção imperando em todos os setores da administração pública, os lobistas que nos atacam diariamente, aqui mesmo, na casa do Congresso, as obras superfaturadas, a dinheirama em espécie que rola, em cédulas de cem e de 50, estalando de novas, conservando ainda as etiquetas dos bancos de onde foi criminosamente retirada.
"Tenho um depoimento pessoal a dar, senhor presidente, senhores deputados e senhoras deputadas, a todos, aos profissionais da mídia aqui presentes e àqueles que estão acompanhando os trabalhos desta comissão. Em dias do ano passado, fui procurado por um cidadão, aqui mesmo, senhor presidente, no recinto sagrado desta casa do povo. Um cidadão bem vestido, bem falante, que se dizia amigo próximo do ministro Percival Sabóia de Menezes e Silva e parente afastado do desembargador João Pontano Ghiardini.
"Pasmem, senhoras deputadas e senhores deputados! Este cidadão trouxe-me a proposta de um grupo holandês interessado em canalizar o rio Amazonas e seus afluentes, a fim de proteger tão preciosas águas da poluição ambiental dos turistas que infestam aquela região que todos os brasileiros desejam intocável. Recusei de pronto, senhor presidente. Minha conduta sempre pautada pela ética, não podia aceitar o absurdo de ter o Amazonas canalizado por um grupo estrangeiro interessado em solapar a nossa soberania.
"Dando seguimento à minha pergunta, solicito que a testemunha diga, com franqueza, diante da nação que nos fiscaliza, se ele reside mesmo... (consulta um papel) ...em Piracicaba, rua Tenente Dias do Couto, 146?"
Testemunha: "Sim, é verdade. Mas permito-me acrescentar um detalhe. Moro na rua Tenente Dias do Couto, 146, fundos".
Folha de São Paulo (São Paulo) 20/07/2005