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Descida ao inferno

 

O presidente Lula desceu ao inferno, e nem demonstrou que deixou a esperança na porta, como na Divina Comédia de Dante. Se a deixou, considera-se perdido. Se a trouxe consigo, ainda acredita na sua sobrevivência política, depois de ter aprendido a nadar no imenso oceano de lama que seu partido e seus correligionários criaram para ele. Não sabemos se o presidente tinha consciência ou não de sua sina, nesse sórdido episódio que compromete a nação perante o julgamento do mundo.


Não direi que tenho pena de Lula. Pau de arara, veio de caminhão para o Sul, movido pela ilusão das grandes cidades e dos vales férteis, dos empregos miríficos para quem se ilude. São Paulo foi-lhe propício, deu-lhe emprego, sindicatos, e tempo - estofo de todas as obras-primas e de todas as ações duradouras, como disse Ruy Barbosa num discurso famoso.


Isto porque o atual presidente não aproveitou as horas de lazer, que foram muitas, mais de vinte anos, para estudar como fez o Vicentinho, que está advogando e ganhando experiência. Sua ganância não deixou que aproveitasse como devia, para quem aspirava a primeira magistratura da nação.


O resultado está aí, no seu desespero, agora que ele caminha pelo inferno da tremenda crise, nunca dantes registrada. Não sabemos, ninguém tem a capacidade para prever o que vai sobrar desse vergonhoso assalto aos cofres de um País prometido a grandes realizações para o bem do povo. População que merece, por sua paciência, suas crendices, inclusive nos homens que são eleitos com o seu voto. Mas que traem, miseravelmente, essa população, carentede todos os benefícios da cultura e da tecnologia, como são premiados os habitantes de outras nações.


Ninguém é capaz de antecipar se sairemos desse sinistro e fuliginoso, lamacento e sórdido episódio, onde se destacam os charcos, com sapos imundos, os autores da crise que nos atazana.


O presidente Lula despertou grandes esperanças no Terceiro Estado, o povo, que lhe deu a vitória. Mas, infelizmente, fez-se pouco de todas as mentiras ouvidas pelos eleitores nos comícios, nas televisões, nos rádios, enfim, na propaganda enganosa da qual estamos fartos, por ser a demagogia que, desde os gregos, é recusada pelos seres humanos conscientes de seu destino.




Diário do Comércio (São Paulo) 21/07/2005

Diário do Comércio (São Paulo), 21/07/2005