Li por aí que o senador Delcídio Amaral passou um dia inteiro selecionando denúncias que chegam à CPI dos Correios, a maioria delas vinda de anônimos que aproveitam a confusão para acusar desafetos políticos ou profissionais.
É sempre assim. Por ocasião do atentado da rua Toneleros, em 1954, que provocaria o suicídio de Vargas, a mídia de então, interessada em derrubar o presidente da República, noticiava um desfile de suspeitos na emboscada que mataria o major Vaz. Impressionante os nomes que surgiram e ficaram no noticiário durante os dias da crise.
Foram vistos naquela rua e naquele momento generais, deputados, governadores de Estado, empresários, além da arraia-miúda, como a copeira que trabalhava na casa de Lutero Vargas. Mais tarde, ficamos sabendo que houve apenas três testemunhas qualificadas, os jornalistas Armando Nogueira, Octavio Bonfim e Deodato Maia. Segundo os jornais, metade da população brasileira passou por ali -até mesmo um defunto que havia trabalhado na Guarda Pessoal do Catete. O denunciante pensava que o cara ainda estava vivo, e, vivo ou morto, devia ser suspeito.
Em caso menos emocionante, quando mataram a jovem Cláudia Rodrigues, obrigando-a a tomar uma overdose, eu morava em frente ao apartamento onde não apenas mataram a jovem mas trouxeram o cadáver para a calçada. Não vi nada naquela noite, embora estivesse a menos de 40 metros do crime. Nos dias seguintes, fiquei sabendo que metade da população do Rio por ali passara, cada jornal descobria que fulano ou sicrano participara da bacanal.
Pulando de dois casos antigos para a crise que está abalando a nação: quem foi ao Banco Rural, agência Brasília, nos últimos dois anos e meio? Quem foi visto pelas imediações? Os registros bancários, tal como vem ocorrendo, servirão como indícios ou provas. Mesmo assim, a temporada de caça está aberta.
Folha de São Paulo (São Paulo) 24/07/2005