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Apoteose mental

 

O presidente Lula está dentro da fase pessoal que um antigo e já falecido humorista de televisão chamou de apoteose mental. O presidente, sem mais nem menos, desafia qualquer intelectual, qualquer escritor, qualquer professor de Ciência Política para debater com ele o significado de ética.


Suponho que se crê possuidor da ciência infusa como os anjos, os santos, os profetas. Um fenômeno, portanto, o presidente da República. É uma descoberta para nós, que não sabíamos ter nascido no Brasil esse fenômeno. Mas, não se iludam, é típica apoteose mental.


Escrevi, e minha editora publicou no ano passado, um pequeno ou sucinto estudo sobre política e ética. Eu o fiz para colaborar com os debates, sem fundamento, sobre ética. Evidentemente me baseei em Aristóteles e Santo Tomas. Quem o leu, e não conhecia a filosofia da ética, aprendeu, pois é muito mais fácil do que a filosofia do grande estagirita. Evidentemente, o presidente Lula não conhece nem o meu livrinho, nem a filosofia de Aristóteles. Seria querer demais de um modesto antigo torneiro mecânico, que não cuidou de aprender como fez o Vicentinho, que se diplomou em Direito, e está trabalhando na profissão. Foi pena, pois se conhecesse a filosofia da ética, não estaria com desafio em forma de bravata, que ninguém leva a sério.


Ninguém aparecerá para discutir com Lula, pois de nada adiantará. O presidente justifica a afirmação do padre Vieira, nada muda tanto um homem quanto o subir ou o descer e o subir mais do que o descer. Está aí o presidente da República, eleito com superioridade de votos sobre seu competidor. Mas saiba o presidente Lula que o seu partido não tem ética e o próprio presidente, líder do partido e seu candidato único, não tem ética. Uma triste realidade numa república que já ultrapassou um século de existência e ainda braceja para encontrar o seu rumo ético. É o que se deve dizer ao desafio do presidente, para convencê-lo que não deve haver desafio, por ser inútil.




Diário do Comércio (São Paulo) 26/07/2005

Diário do Comércio (São Paulo), 26/07/2005