Na última reunião de Mesa Administrativa da Santa Casa, um dos irmãos mesários, ao responder ao meu cumprimento, disse-me que o mal maior praticado pela crise gerada pelo PT do presidente Lula foi ter dado origem à crestação da esperança, não só nas novas gerações que despontam, mas a todos nós que ainda cremos no Brasil. Dei-lhe a minha conformidade.
Estou chegando a uma altura da vida, quando já passamos, em linguagem esportiva, do tempo regulamentar, da prorrogação, para estarmos na hora pênalti, com duas cobranças, e faltando mais duas, portanto, já no fim da longa jornada. E como disse em carta Machado de Assis, perto da última aposentadoria. É exatamente onde nós nos encontramos. Vendo a esperança desvanecer-se, para desaparecer na "extrema" curva do caminho extremo, como temos nos versos de Olavo Bilac.
O filósofo da esperança, que conheço muito bem, é o meu caríssimo amigo e companheiro de jornadas católicas Tarciso Padilha, um dos expoentes do pensamento filosófico no Brasil, pensamento tão bem exposto no magnífico artigo publicado no penúltimo sábado, pelo notável professor Miguel Reale, uma das glórias da cultura brasileira. O douto Padilha crê e confia em Deus, que nos salvará antes de uma derrota final de um país e seu povo prometidos a um grande futuro. Mas o douto irmão mesário foi mais explícito na sua afirmação de que a esperança está cada vez mais se distanciando das gerações que se encontram nesta idade histórica. Eu também creio em Deus e tenho confiança que seremos salvos. Mas devo concordar que as gerações mais velhas, que estão cumprindo sua obra histórica com o número de anos vividos e os serviços prestados para a sociedade, já não têm esperança, vendo, tomando conhecimento da terrível crise engrenada pelo PT e seus próceres, seu líder máximo e seus antigos guerrilheiros.
O irmão mesário ainda me lembrou o soneto "Velho Tema", de Vicente de Carvalho. "Só a leve esperança em toda a vida, disfarça a pena de viver, mais nada". "Nem amais a existência, resumida, do que uma grande esperança malograda". Estamos nessa antevisão do poeta, pois os poetas autênticos, como foi Vicente de Carvalho, sabem, por intuição, afuroar o futuro e nos fazerem ver o que outros não vêem. Estamos de acordo na leve esperança que já não disfarça a pena de viver. É o caso de perguntarmos se a esperança morreu, o que faremos. O meu irmão mesário respondeu: "Oremos". Sim, vamos orar, para a esperança reflorescer. Meu companheiro e confrade de Academia, Tarciso Padilha, vai ainda defender a esperança, com fé em Deus e ainda na sua infinita misericórdia.
Diário do Comércio (São Paulo) 27/07/2005