Pesquisa feita no início da última semana parece que surpreendeu a mídia em geral e a classe política em particular. Revelava que os escândalos causadores do trauma nacional não haviam afetado a imagem do presidente da República. Pelo contrário: ela crescera na estima e aprovação do eleitorado.
No final da mesma semana, pesquisa realizada por outro instituto especializado mostrava ligeiro descrédito na popularidade do presidente e do governo, coisa pouca porém, que não dá para assustar.
Não admiro este tipo de pesquisa, embora acreditando na honestidade e na técnica com que é feito. Somos 180 milhões de brasileiros, uns 40 ou 50 milhões estão no circuito econômico e cultural, é troço pra burro, mais que a população de muitos países europeus. Esses 40 ou 50 milhões consomem jornais, livros, têm ou tiveram acesso ao segundo grau e às faculdades, viajam, ingerem proteínas e carboidratos em doses suficientes desde a infância. É nesta faixa da sociedade que há estupefação e revolta.
Entretanto sobram de 130 a 140 milhões de brasileiros cuja preocupação é o pão de cada dia, a moradia, o hospital para o caso de acidente ou doença, o emprego, a escola ainda que em primeiro grau para os filhos tentarem melhorar de vida.
Esta imensa massa de brasileiros se distrai com a TV aberta, nunca viu TV a cabo, acompanha futebol, novelas e programas de auditório. A crise política passa longe, é coisa dos bacanas, de gente rica, eles que se entendam.
Alguns sociólogos afirmam que o moralismo é manifestação exclusiva da pequena e média burguesia. As duas pontas da escala social, os pobres e os ricos, têm moralidades próprias, embora diferentes.
Dando um exemplo recente: no impeachment de Collor, quem ocupou as ruas com a cara pintada foi a classe média. Os ricos não se manifestaram. Os demais (pedindo perdão pela cronologia errada) queriam saber quem tinha matado o Lineu.
Folha de São Paulo (São Paulo) 27/07/2005