Na reta final, os corredores precisam correr mais rápido. O ditado é do tempo dos romanos mas continua atual. Tão atual que os candidatos à Presidência assumiram uma espécie de vale-tudo eleitoral, há equipes especializadas em fuçar todos os detritos, em busca de um escândalo que defenestre um deles da disputa.
Fica valendo a pergunta: democracia é assim mesmo, coloca os corredores numa pista e que vença não o melhor mas o menos pior? Se o fenômeno fosse exclusivo de povos não desenvolvidos, restaria a hipótese do atraso cultural. Mas a briga, a procura desenfreada pelo podre alheio é universal, atingiu a França e os Estados Unidos em eleições recentes.
De um mês para cá, sobretudo após o horário obrigatório na TV e no rádio, os programas de governo dos candidatos foram esquecidos, só quando diretamente provocados pelos profissionais da mídia, eles se lembram de prometer isso ou aquilo.
A busca por um fato novo, vale dizer, por um podre específico e não sabido até então, consome todas as energias das equipes que trabalham para os principais candidatos. Verdade seja dita, nada de cabuloso tem aparecido, apenas miudezas da miséria humana que todos acumulamos, no bornal com que fazemos a travessia entre o berço e o túmulo.
Todos de certa forma mentiram aqui e ali, todos prometeram o que não puderam cumprir, todos assumiram prioridades que não deram certo. O curioso campeonato entre acertos e erros está razoavelmente empatado.
O diferencial que vai decidir o ungido ainda é uma incógnita. Não será o passado nem o pretendido futuro de cada candidato. Um fato verdadeiramente novo, emocional ainda por cima, pode premiar até mesmo o último colocado nas pesquisas.
Por exemplo: a filha de um deles ser seqüestrada por bandidos comuns, as TVs ficarem 24 horas transmitindo as negociações. É vitória para o primeiro turno.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em 25/09/2002