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O dólat e as rosas

 

O presidente da República e sua equipe econômica estão reclamando daquilo que chamam de especulação. Entenda-se por especulação a norma existente em qualquer mercado que visa ao lucro maior e mais rápido. É uma das leis irrevogáveis, como a da gravidade e da própria globalização, sob as quais somos obrigadas a viver.


O que não chega a ser lei, e dispensa a obrigatoriedade, é a incoerência do atual Governo, que também especulou com o dólar no início do Plano Real, elegendo o atual presidente, alterando a constituição num dos artigos mais pétreos, e reelegendo o especulador que fazia o País acreditar na especulação mais cretina de nossa história econômica: a de que o real valia um dólar.

O proveito da especulação, tanto num caso como no outro, foi o lucro maior e mais rápido. Os especuladores de agora podem operar com o dólar a 4 reais e, no espaço de uma noite - ao contrário das rosas de Malherbe que viviam o espaço de uma manhã -, viverem uma fortuna.


Mas os especuladores de ontem também tiveram lucro maior e mais rápido, insistindo radicalmente na paridade do real com o dólar. Arrebentaram com o mercado de trabalho, sucatearam empresas, mas se mantiveram no poder por oito anos.


Quando vim ao mundo, em distante ano, já encontrei dois lugares-comuns que prometi repudiar, mas volta e meia escorrego em suas facilidades. Um deles é o do roto e do esfarrapado. Em matéria de especulação, tanto o Governo como os aproveitadores da alta do dólar funcionam como rotos e esfarrapados, embora não sejam nem uma coisa nem outra.


O outro lugar-comum são as rosas de Malherbe. Fui educado num ambiente em que, invariavelmente, um professor falava nas tais rosas. Tomei implicância com elas - mas delas não me livro, até mesmo quando estou falando de coisas nada poéticas, como especulação, dólar e Governo de FHC


 


Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em 17/10/2002

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) em, 17/10/2002