Citei várias vezes o padre Antônio Vieira, uma nota de psicologia humana, que vemos, com, freqüência reproduzida, principalmente na vida pública, no Estado-espetáculo que é o característico da política de nosso tempo.
Disse o padre Vieira num sermão: "Nada muda tanto um homem que o subir e o descer, e o subir mais do que o descer". Está aí para servir de exemplo ao padre jesuíta o presidente da República, Excelentíssimo Senhor Luís Inácio Lula da Silva, um retirante do Nordeste, que veio como pau-de-arara. Foi torneiro mecânico pelo Senai, presidente de sindicato e fundador de partido, pois, esperto, viu que esse era o caminho que lhe convinha.
Tomou as rédeas do PT, impôs-se como líder de trabalhadores e dos aderentes ao partido, lançou-se candidato, não foi eleito, mas, finalmente, chegou seu dia, foi nas últimas eleições.
Eleito presidente da República, confirmou o padre Vieira, pois se lançou pelo mundo como grande condutor de povos e até se esqueceu de seu grito inicial, que comoveu o saudoso papa João Paulo II: "Abaixo a fome". Começou pelo Piauí, o estado mais pobre do Brasil. Hoje ninguém mais fala do grito de guerra do morubixaba do PT, e vieram outros gritos no Brasil e no exterior.
Mas, o presidente Lula da Silva passou a caminhar nas nuvens do tributo que lhe pagavam chefes políticos, autoridades supremas, inclusive presidentes, embora o próprio Lula não tomasse cuidado em saber com quem estava lidando. É, entre outros, o caso de Chávez, seu amigo fraterno e dele recebendo conselhos.
Mas, o pior é que vamos mergulhando num mar de lama, muito mais profundo, mais viscoso do que o que provocou a frase famosa de Getúlio Vargas, levando-o ao suicídio. Nesse crescendo, poderemos em breve ler nos jornais que a corrupção do dia é esta ou aquela, enfim, mais uma das que emergem do mar de lama. Não cremos que Lula se locuplete com os corruptos. Além de inteligente é honesto. Nunca nada se soube do presidente. Isso é importante.
Foi o seu apetite pelo exterior, pelos países que o convidam, pelos que fazem negócios no Brasil e pelos que apenas prometem. Enquanto isso, as corrupções progridem, contra o maior interessado, que não as percebe. Daí um deputado tê-lo comparado ao Fernando Collor dos escândalos em série.
Lula deve tomar atenção para não se afogar no mar que se vai formando. E pense no Brasil, no Brasil que é um pais rico habitado por milhões de pobres, de famintos, de miseráveis mesmo, que não vêm futuro para si e seus filhos.
Com a sorte que o contemplou, volte-se para o Brasil, esse pobre, miserável Brasil de sua região, o Nordeste, e encerre o seu mandato de agora ou o seguinte, tendo como São Paulo cumprido a promessa, saindo incólume com a glória de ter impulsionado o desenvolvimento.
Diário do Comércio (São Paulo) 08/06/2005