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O laicismo religioso

 

Os analistas brasileiros, apressados nas suas observações sobre a derrota do Sim na eleição de domingo, 29, na França, não prestaram atenção um fator poderoso, que, no entanto, não foi levado na devida consideração. Trata-se do laicismo, sobre cuja base foi elaborada a Constituição, pela comissão de juristas presidida pelo ex-presidente Giscard d’Estaing.


Foi esse, no entanto, um dos mais fortes motivos para o Não de domingo, 29. Por mais que o laicismo tenha avançado, a religião é, ainda, uma força invencível de que dispõe o povo, como demonstrou no pleito referendo.


Faz poucos dias, a morte do papa João Paulo II e seu enterro em Roma demonstraram a força da religião, com os milhões de peregrinos do mundo inteiro, dos chefes de Estado e de governo, com os maiores potentados da terra, pois a religião muito pode e demonstra esse poderio quando é preciso, como se deu no referendo francês.


Os autores da Constituição não pensaram em levar em consideração o problema religioso. Foi o seu grande erro, a começar por Giscard d’Estaing, e foi esse o seu erro magno. Não se sabe, evidentemente, se vão se convencer os autores da Constituição do problema religioso e de sua tremenda força, sobretudo nos momentos histéricos de crise mundial nos regimes políticos, como agora.


O laicismo religioso nunca existiu como prática em nenhum país. É uma praga. Prova-o o catolicismo, como ficou demonstrado, citei acima, nas cerimônias fúnebres da morte de João Paulo II. Não desapareceu na China, onde o confucionismo está vivo, apesar do maoismo, nem no Japão, onde o xintoismo tem no imperador o seu chefe, e nas demais religiões, como o islamismo que deu origem, mesmo, ao terrorismo de uma de suas seitas.


É preciso estudar o golpe sofrido pelo Sim no modelo de Constituição e na sua conclusão, a ser submetida, como foi, em referendo. Está aí, portanto, uma lição aos homens públicos aos quais se incumbiu a missão de preparar uma Constituição inteiramente leiga, sem conexão religiosa de maneira total.


Em suma, uma lição que deve ser aproveitada.




Diário do Comércio (São Paulo) 09/06/2005

Diário do Comércio (São Paulo), 09/06/2005