Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > E se Lula sabia?

E se Lula sabia?

 

Reduzida a uma expressão mais simples, a crise atual se limita a tirar ou deixar o ministro José Dirceu na Casa Civil da Presidência da República. Os dois escândalos recentes (Correios e "mensalão") ficam na dependência de uma CPI já aprovada e de uma investigação que talvez justifique uma outra CPI. Resumindo: teoricamente, os dois escândalos podem ser apurados e punidos.


A temperatura da crise cresceu - e muito - quando José Dirceu foi acusado frontalmente de saber da existência do "mensalão" e de nada ter feito para impedi-lo, denunciando e punindo os envolvidos.


Realmente, se verdadeira a acusação, a falta de José Dirceu é gravíssima e seria inconcebível mantê-lo na esfera mais alta do poder. Contudo a crise não pode ficar limitada ao chefe da Casa Civil.


Casa Civil de quê? Da Presidência da República. E aí a porca torce o rabo. Se José Dirceu sabia do esquema criminoso, até que ponto se deve perguntar: e o presidente, nada sabia?


Já comentei, em diversas crônicas anteriores, que Lula é um "outsider" que resvala pelas crises surgidas em seu governo. Crises que não o atingem diretamente, dada a sua biografia e imagem que constituem, no quadro atual, uma garantia de nossas instituições.


No passado, o escândalo do painel eletrônico do Senado, bem menor do que o "mensalão", era do conhecimento do presidente da República de então. Nada aconteceu a ninguém. O escândalo de agora é bem mais grave, pode até ser considerado o mais grave de nossa história parlamentar.


Se o chefe da Casa Civil tinha conhecimento dele e não o revelava nem o punia, fica a merecer não apenas o afastamento do cargo mas também o repúdio da nação. Nos próximos dias, todos os esforços do governo do PT serão concentrados nas provas de sua inocência.


A crise é simples e pode ser considerada hamletiana: Dirceu sabia ou não sabia, eis a questão. Nela, embutida, há uma outra: e se Lula também sabia?




Folha de São Paulo (São Paulo) 14/06/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 14/06/2005