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Gostei e desgostei

 

Sem entrar no mérito das respectivas causas, acredito que, desde os tempos de Carlos Lacerda, não tivemos uma performance igual à do deputado Roberto Jefferson em seu depoimento à Comissão de Ética. Tinha dele uma imagem nebulosa, seu passado não me parecia recomendável -e seu presente é de tal forma polêmico que não se pode fazer um juízo de valor a seu respeito como político e como homem.


Mas sua atuação na última terça-feira, antes de ser arrastado ao bate-boca com aqueles a quem acusara frontalmente, foi um espetáculo em si mesmo, descontando-se, é lógico, o conteúdo que pode ser contestado -e em muitos pontos o será.


Deixo claro, redundantemente, que não entro no mérito das acusações e das defesas do caso em si. Limito-me à apresentação de Roberto Jefferson, que coloco em pé de igualdade com a de Lacerda quando defendeu seu mandato de deputado, então ameaçado pelo governo de JK por ter revelado segredos do Estado.


Pena que Roberto Jefferson não tenha a biografia e a atuação de seu xará, o senador Jefferson Péres, que me parece a voz mais sensata e superior do atual Congresso, ao lado de outros poucos, como Pedro Simon, este possuidor de uma oratória especial, que, por diversas vezes, já louvei em crônicas anteriores.


Quanto ao caso em si, os escândalos dos Correios e do "mensalão", de duas, uma: se surgirem provas (e não discursos, ainda que espetaculares), a crise atual deverá descambar para um terremoto que deverá tragar todo o governo, com a provável exceção do presidente Lula, que, mesmo assim, sairá tão chamuscado que melhor seria licenciar-se até o fim do atual mandato.


Caso contrário, em que pese a brilhante oratória de Jefferson, acho que será motivo para a cassação do mandato e a suspensão dos direitos políticos -de Roberto Jefferson e dos demais envolvidos.


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 16/06/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 16/06/2005