Foi um bando de fantasmas. Ninguém sabe, nem descobre antes do desastre que seus membros vão atacar, pouco se importando com o valor da vida humana. Estão sedentos de sangue, querem amedrontar a população, e o conseguem, e acabam fornecendo aos órgãos de comunicação de massa os clichês de que eles necessitam para impressionar leitores e áudio espectadores. Quem viu a primeira página dos jornais de sexta-feira tem a imagem terrível do desprezo pela vida dos condenados pelo terror.
Um movimento até então desconhecido de todos, mas apenas de alguns, que o conheciam, assumiu a paternidade do ataque nos trens que demandavam Madri e estavam lotados de condenados à morte, sem o saberem. Num momento dado, a explosão se fez ouvir ao longe, o trem parou, freado pelo golpe sofrido, e começaram os gemidos, os gritos, os protestos, os uivos de dor, dos infelizes que bombas anônimas, colocadas por fantasmas anônimos, haviam posto fim.
O terror, que teve o primeiro impacto no mundo de nossos dias, deu-se em 11 de setembro de 2001, com o ataque às torres de Nova York. Os empregados das empresas ali estaladas, que haviam chegado cedo para trabalhar, mais provavelmente por necessidade, foram os primeiros sacrificados. Vieram depois os demais, que não puderam deixar a tempo o edifício e os passageiros dos aviões, que não pensavam na morte quando os tomaram nem em Washington. A morte estava em toda parte.
O terror faz parte da política de nossos dias. Nenhum regime, nenhum governo está a salvo desses criminosos insensíveis, para os quais a vida não tem nenhum valor. Na Espanha, querem reviver a revolução dos anos 30, e fora desse objetivo, querem simplesmente chamar a atenção do mundo para sua determinação contra a ordem estabelecida, conta o Estado de Direito, contra a paz. É o que estamos presenciando, o que estamos vendo, o de que estamos tomando conhecimento. É o Apocalipse preparado por fanáticos da destruição e da tenaz inimizade da vida.
Diário do Comércio (São Paulo - SP) em 15/03/2004
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