Um passageiro de ônibus, acompanhado da mulher, desceu do veículo pela porta adequada e sem motivo algum, sem nada que o provocasse ou provocasse a sua ira, saca do revolver, que tinha no coldre sem autorização da polícia, e atira no pobre motorista, que estava cumprindo o seu dever, para ganhar o modesto salário com que deve sustentar a família, educar os filhos e ter algum lazer. Crime estúpido, como todos os crimes que se registram na capital.
Esse foi um dos crimes praticados no mesmo dia. Na segunda-feira da semana passada dois indivíduos pegaram o metrô em movimento. O fiscal, no exercício de suas funções e obrigações tentou, correndo ao lado do trem, obter o pagamento. Não conseguiu. Ao desistir e voltar, recebeu um certeiro tiro nas costas e caiu morto na plataforma do trem. Mais um que demonstrou fisicamente que a vida não tem valor para os criminosos que infestam a capital.
Faz anos que venho procurando chamar a atenção das autoridades para a vida sem valor. Mas, também, para a Justiça. Enquanto não tivermos um sistema penal efetivamente punitivo - ainda que os românticos da penalidade o queiram diferente, queiram o crime sem punição - os crimes proliferarão, de tal maneira que será praticamente temerário sair à rua, para ir ao trabalho ou para gozar um pouco de lazer, que é o descanso dos pobres.
Cabe ao governo punir os criminosos, mas cabe ao governo, também, reduzir o número de criminosos, retirando deles a liberdade de que gozam, contra a lógica da punição. O criminoso não pensa, ao tirar a vida de um semelhante, mas pensa na liberdade e se arrisca para pode sair e respirar fora o ar da liberdade. É mostrar-lhes que essa liberdade só virá com longo período de tempo atrás das grades e bom comportamento, que é possível, desde que o interessado o queira. É desejar muito? Afinal, a vida tem valor e precisa, portanto, ser preservada.
Diário do Comércio (São Paulo - SP) em 16/03/2004