Há alguma coisa de errado nas relações da União com os estados e municípios. Embora nada entenda do assunto, sempre achei que a federação, como qualquer tipo de federação, situava-se no topo da pirâmide administrativa do País, sobretudo no setor mais importante, que são as cotas nas receitas e em inúmeros outros quesitos a que as partes (estados e municípios) têm direito a participar do grande bolo.
Ledo e ivo engano. O que se vê diariamente é a constante e interminável fila de governadores indo e vindo de Brasília, tomando chá de cadeira por horas, a fim de descolar a liberação de uma verba ou expor um caso emergencial.
A centralização financeira é um fato e quem dispõe da chave do cofre, quem fica sentado em cima do dinheiro, transforma-se realmente num soba, num deus da vida e da morte, dono do sol e das estrelas.
A prática tornou-se tão truculenta que sobra aos governadores, em geral, a administração dos problemas inadministráveis, como a segurança pública, o sistema carcerário, a saúde, a educação, o abastecimento de água etc. Num regime federativo decente, a União devia expressar as necessidades e operar as potencialidades da nação como um todo, seja na guerra como na paz, sem discriminar unidades politicamente não afinadas com os governantes federais.
Prevalece, nos hábitos nacionais, o assistencialismo da União em face de problemas específicos e pontuais, como enchentes, desmoronamentos, desastres ambientais de grandes proporções, como se o Governo federal fosse a Madre Tereza de Calcutá, dando um prato de sopa aos desabrigados.
Por falar em sopa, o Fome Zero que foi lançado pelos marqueteiros de Lula nos primeiros dias de seu Governo, além de um equívoco, foi um indício de que predominará nos próximos anos a mesma mentalidade demagógica e irresponsável que - todos esperávamos - o PT iria banir para sempre da vida nacional.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro -RJ) em 22/10/2003