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Os bons tempos da educação

 

O Instituto de Educação do Rio de Janeiro foi a antiga e elogiada Escola Normal. Uma das professoras da década de 40, Heloísa, hoje com 88 anos, memória perfeita, lamenta que a escola não seja mais a mesma. Não há mais o mesmo amor de antigamente.


Ela passou pelo Instituto de Educação e se entristeceu com a brutal grafitagem da sua clássica sede, na Tijuca. Viu as persianas destroçadas e sabe que lá dentro os professores sofrem para dar aulas com tranqüilidade. Falta tudo, inclusive o respeito de outrora.


Há um outro aspecto que acompanhei de perto, quando tive a honra de dirigir a Secretaria Estadual de Educação e Cultura (79-83). É o movimento chamado grevismo, com ingredientes como assembleísmo e corporativismo. Diante dos baixos salários, a liderança dos professores organizou greves que, de início, foram muito bem sucedidas. Encontraram guarida no espírito das autoridades.


Em 1980 chegou-se a dar aumentos de até 1.000%, repondo a educação fluminense na lista das mais bem pagas do Brasil. Entretanto, não contando com a pressão em cima dos parlamentares para realizar diálogos respeitosos com as autoridades levou-nos a sucessivas greves, a violência policial, o irrecuperável prejuízo dos alunos, que não tiveram aulas devidamente repostas, o caos em que hoje nos encontramos, clamando por uma aparentemente inatingível qualidade de ensino.


As perdas dos alunos, em matéria de conhecimentos, são irreversíveis. Aulas deixaram de ser dadas, na seqüência natural de cumprimento dos currículos e houve uma grande má vontade para repor a carga horária. Em São Paulo, no período de quatro anos, um ano deixou de ser dado por causa das greves. Que geração estaremos formando com esse tipo de deficiência?


Discute-se a perda de substância no respeito ao magistério. Os professores não são tratados como antigamente. As manifestações de rua, interrompendo o tráfego, as brigas no Largo do Machado, vaias e panelaços não podem compor um quadro que seja do apreço da sociedade. Os líderes não perceberam isso? Os caminhos de defesa dos legítimos interesses salariais dos professores e especialistas passam por outras estratégias, que devem incluir reivindicações como a melhoria de laboratórios e bibliotecas das escolas, além do preenchimento de vagas em determinadas matérias em que os alunos acabam passando com o vergonhoso conceito de S/P (sem professor). Em Física, Química e Biologia isso se tornou comum, para vergonha nossa.


Ah, que saudades da velha escola! Quem teve a felicidade de sobreviver aos tempos, pode muito bem proclamar o seu saudosismo, com toda razão. Quando até as cartilhas eram eficientes, no método fônico, e produziam efeitos mágicos no espírito das crianças. Hoje, com vários e complicados métodos, alguns estrangeiros, alfabetiza-se com muito mais dificuldade. Mas essa é uma outra história.


 


Jornal do Commercio (Rio de Janeiro -RJ) em 03/11/2003

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro -RJ) em, 03/11/2003