Uma das características da psicologia do povo brasileiro é a que ele se habituou com medidas, iniciativas, decisões do governo que não mudam nunca. É o que podemos denominar à portuguesa, um ir e vir sem fim, desses que servem de brinquedo às crianças. Está em jogo há muito tempo, desde a ascensão do presidente FHC, a reforma da CLT, a famosa Consolidação das Leis do Trabalho, assinada por Getúlio Vargas, elaborada que havia sido por Marcondes Filho e uma comissão.
Todos quantos trabalham por salário estão subordinados à CLT, são os celetistas, neologismo que lhe calha muito bem. Entra governo e sai governo, enxurradas de declarações são publicadas pelos jornais e declarações são oralmente dadas a conhecer pelas televisões e rádios. Mas nada se muda, a não ser a estabilidade no emprego, que não desapareceu de todo, como se queria para os mais velhos nas empresas. A CLT está ai firme como o Pão de Açúcar, cartão postal do Rio de Janeiro,
Agora, com o Congresso renovado em mandatários eleitorais, temos, de novo, a CLT no foco das intenções - porque não passam de intenções - para a mudança de alguns de seus artigos e, consequentemente, o enterro final de Getúlio Vargas, que a pôs em vigor no dia 10 de novembro de 1943, portanto há mais de cinqüenta anos, quando deveria durar apenas o período da ditadura do sorridente líder gaúcho, que iniciara a legislação trabalhista com Lindolfo Collor.
Um resíduo que ficou da CLT foi o famoso imposto sindical, um dia de trabalho que todos os assalariados pagam para manter o sindicalismo em pé. Iria ser derrubado. Quase chegou a sê-lo, mas no Brasil as coisas não acontecem facilmente na área do governo. De um dia de desconto do salário a receber, os trabalhadores vão pagar quatro dias de salário por ano, decisão, que manterá nosso sindicalismo, não raro desequilibrado, com força para atuar, creio que pior do que tem sido.
Diário do Comércio (São Paulo - SP) em 30/03/2004