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A Presidência é exigente

 

Foi um grande amigo de Lula, companheiro mesmo de jornadas sindicais, Sua Eminência Cardeal Arns, quem escreveu que, infelizmente, o presidente não estava preparado para assumir a Presidência, que é muito complexa para quem nunca exerceu função pública.


Está aí um julgamento sereno, objetivo e irrefutável. O presidente foi eleito por maioria de votos, sem que se cogitasse de examinar a sua personalidade, ainda que de longe e inutilmente para a eleição, como imatura para exercer o maior cargo da nação. Lula, corrupções em série, conduziu a nau do Estado. E não são, pois, as crises que começaram desde o primeiro dia de exercício do mandato; as crises começam a pipocar em torno do titular do cargo.


A Presidência, assunto que pretendo desenvolver num novo livro já planejado, é uma invenção americana, como acentuei há dias nesta coluna, é cargo-trabalho, demandando, por isso, muito trabalho, para o qual o presidente não parecia disposto.


Provavelmente, por ter ficado longos anos com o pouco trabalho que lhe davam os sindicatos e a sua maneira de fazer política. O resultado está aí nas crises que estouram todos os dias em torno do chefe de Estado. Lula, que é inteligente, deve já ter percebido que, como se diz vulgarmente, a Presidência é fogo.


Esses aspectos, a função do presidente, enfim, a estrutura do presidencialismo vou focalizar em estudo para o qual já reuni material, sobretudo dos Estados Unidos, colhido nas suas bibliotecas. Vou dar razão - com a relação aos presidencialismos em crise, e Lula não está bem - a Harold Laski, o sistema não deveria nunca ter saído de sua pátria de origem. Ficaria desastroso, para dizer o mínimo, em todas as nações que o adotasse. Rui Barbosa percebeu e alertou para as eleições dos menos preparados ou nada preparados, que se abre. Temos a prova no Brasil e nos demais estados do continente, que é verdadeira a tese do ilustre ensaísta britânico.


Sei que é inútil o que escrevo sobre regimes. Não pensei em ninguém, porquanto não defendo uma volta ao passado, mas outra solução, que não seria aceita pela opinião pública, trabalhada pelos detentores de cargos rendosos num regime anômico.


É isso, sobre a conjuntura atual.




Diário do Comércio (São Paulo) 22/06/2005

Diário do Comércio (São Paulo), 22/06/2005