O encontro com Oswaldo Siciliano, na Bienal Internacional do Livro, no Rio de Janeiro, foi aquecido pela estranheza com que vemos, cada qual do seu ângulo, parte da nossa juventude a utilizar o seu tempo, no emprego do computador, com uma língua desconhecida para o comum dos mortais.
Que língua é essa? Perguntamo-nos, como se já não bastasse a complexidade da própria língua portuguesa, inculta e bela, mas de uma riqueza sem par, ao lado da musicalidade que a torna única. Incorporá-la é dispor de uma grande arma de comunicação, falada que é, dentro da latinidade, por mais de 200 milhões de pessoas.
Uma emissora de televisão me convida para visitar uma escola da Zona Sul do Rio para comprovar a "popularidade" da experiência. Fiquei horrorizado. Os jovens trocam palavras que se demora a entender. O pior ficou por conta da pergunta que lhes fiz: "Sobra tempo para ler livros, de vez em quando?" Como eram todos da oitava série, imaginei que a resposta fosse positiva. Não foi. Disseram claramente que o tempo disponível, à tarde, era para a nova modalidade. Não cabia janela para incluir livros. Ainda por cima estranharam a minha estranheza.
A revista Veja fez uma reportagem sobre o chamado "adeus às palavras". Reparem em alguns termos usuais: colokndo (colocando), ctza (certeza), dpnd (depende), fds (fim de semana), msm (mesmo), nd (nada) e vlw (valeu). O título da matéria é bem elucidativo: Naum tow intndndu nd, ou seja, "Não estou entendendo nada".
A televisão a cabo entrou no circuito do internetês e já existe até um cyber movie onde se comete essa barbaridade. Professores de língua portuguesa acham que essa experiência é de vida curta, modismo, como ocorreu no início da década de 90. Mas temem que possa haver contaminação da linguagem formal, também chamada de norma culta, e que é um problema hoje bastante evidente em nossos cursos superiores.
Os exames de Ordem, para advogados geralmente recém-formados, revelam altos índices de reprovação, para o que muito colabora o péssimo domínio da língua desses jovens que se formam em nossos cursos de Direito. Se além dessa ausência de conhecimento, o pouco tempo disponível para estudos mais apurados tiver de ser dividido com o internetês, o que se poderá esperar do futuro dessa gente?
Uma recomendação que ouvimos de lingüistas e gramáticos, nos debates da Bienal Internacional do Livro, no Rio, foi a de chamar a atenção de diretores de escolas, para o mal que isso causa, sem nenhum proveito fora o passatempo. Sábias palavras, antes que isso se torne mania irreversível, condenando a língua portuguesa a ser inculta e bela, além de incompreensível à maioria da população.
Também não devemos nos escandalizar com isso. Proporcionalmente, o Brasil dispõe de poucos computadores nas suas escolas públicas. O acesso à internet é privilégio de alguns e, com uma boa fiscalização, poderemos extrair do computador o que ele nos traz de conhecimentos novos, deixando essas bobagens de lado.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 26/06/2005