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Lavando a égua

 

Domingo passado, em companhia de Moacyr Scliar, Luis Fernando Veríssimo e Zuenir Ventura, participei de um debate na 1ª Bienal do Livro em Goiânia. Durante algum tempo, tomava parte em bienais e eventos equivalentes, mas neste ano estou recusando todos os convites, só aceitando aqueles que estavam agendados há tempos ou que de alguma forma me parecem realmente importantes.


Como disse em crônica publicada nesta semana, e imitando testamento de João Paulo 2º, está chegando o tempo de "ir" e estou indo. Com bem menos idade, cheguei a passar 23 anos sem publicar livro e recusando qualquer tipo de palestra ou evento. Não tenho mais pela frente os 23 anos, mas não há hora marcada para ir.


Voltando à palestra em Goiânia, foi de lavar a alma, pela companhia dos três amigos e pela presença compacta do pessoal, mais de 2.000 pessoas. Detalhe que, além de lavar a alma, lavou a égua: 99% de jovens, nem todos universitários, simplesmente jovens.


É evidente que não salvamos a pátria nem descobrimos a quadratura do círculo. Falamos de nossas experiências, sobretudo as do movimento de 1964, que vivemos cada qual a nosso modo. E ficamos impressionados com o clima que pintou durante a palestra.


Para quem interessar possa: o governo não está agradando e há decepção causada pelo PT. Não se tratava de um público velho ou de meia idade. Repito: gente compactamente jovem, na faixa dos 20, 21 anos, sem pretensões a cargos ou verbas, apenas com esperança num Brasil melhor e mais justo socialmente. Esperança que está sendo frustrada.


Foram ouvir quatro palestrantes que estão longe da política profissional, são apenas escritores, ao longo da vida nunca pretenderam cargos eletivos ou executivos, vivem em seus cantos, cuidando de seus livros. Talvez, por isso, tiveram platéia tão numerosa e jovem, que desejava ouvir o que os políticos não dizem ou só dizem em causa própria.


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 01/05/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 01/05/2005