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Drucker e o coração

 

Morrer aos 95 anos de idade, com uma vida plenamente realizada, foi o presente que Deus reservou ao escritor austríaco-americano Peter Drucker. Ele nasceu na Áustria, mas, sendo judeu, foi obrigado a deixar o seu torrão natal, em virtude das perseguições e mortes provocadas pelo nazismo, a partir dos anos 30.


Fixou-se na América, como tantos outros gênios. Foi professor da Universidade de Clarement, Califórnia, no período de 1971 a 2003, quando se tornou consultor. Nos 75 anos de atividade, pai da administração como área de estudo, escreveu diversas obras-primas, como "Uma Era de Descontinuidade", na década de 60, que nos traz uma feliz lembrança. Encontramos o ex-governador Carlos Lacerda, numa festa, e ele foi gentil: "Já leu o novo livro do Peter Drucker? Para quem gosta de educação, como é o seu caso, trata-se de obra fundamental."


De posse do livro recém-saído, fizemos a leitura e a releitura dele todo, com especial atenção para o capítulo de educação. Numa época em que os trabalhos manuais começavam a perder força entre os professores do ensino básico, Drucker defendeu ardorosamente o seu emprego, demonstrando como pelas mãos seria possível chegar mais rapidamente ao cérebro. E não o caminho inverso, como era o hábito fazer.


Escreveu 39 livros. O primeiro, "O Fim do Homem Econômico", em 1939. O último foi "O Executivo Eficiente em Ação", ainda inédito, escrito em parceria com Joseph Maciariello. Era uma pessoa de extraordinária visão de futuro, como pôde demonstrar quando, nos anos 50, previu a importância do emprego dos computadores. Na década seguinte, exaltou com antecedência o que viria a ser a explosão econômica dos tigres asiáticos. Suas lições não se concentraram nas aulas em Clarement (Ciências Sociais e Administração). Estenderam-se aos livros e às conferências no mundo inteiro.


Já com idade avançada, nos anos 90, aceitou nosso convite para realizar uma teleconferência destinada às entidades brasileiras de previdência privada. Foram 50 minutos de palestra e mais respostas às perguntas da platéia, que, segundo dados da Abrapp, alcançou mais de mil participantes localizados em diferentes áreas do território brasileiro. Falou da importância da previdência privada como instrumento de democratização do capital.


A nossa pergunta, óbvia, foi sobre a formação de recursos humanos, ou seja, de que maneira a educação poderia colaborar para a maior eficiência do sistema ainda embrionário entre nós (hoje, acumula reservas superiores a 13% do PIB). Peter Drucker deu uma ajeitada na cadeira, na Califórnia, sorriu discretamente, e respondeu: "Para quem tem a educação no coração nunca faltarão bons argumentos para valorizá-la. É a ferramenta mais importante do processo de crescimento social e econômico de um país."




Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 04/12/2005

Jornal do Commercio (Rio de Janeiro), 04/12/2005