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Enfim, a solução

 

Começo a ver claro na confusa, indecifrável vida nacional. Os estrategistas durante a guerra, os sanitaristas durante as epidemias, garantem que o mais importante é localizar o núcleo do inimigo ou o foco das infecções. Até a semana passada, para os nossos lados estava tudo boiando, sem nitidez, sem solução possível.


Felizmente há solução, uma solução que lembra não apenas a guerra, mas a profilaxia. Dirceu e Roberto Jefferson foram cassados e voltarão a advogar. O desentendimento entre os dois, na vida pública, custou uma crise que ainda não acabou. O diabo é que a briga arrastou outras e deu na confusão que atravessamos.


De beca, um na acusação, outro na defesa, ou vice-versa, num júri para decidir uma questão judicial no foro de São José das Três Ilhas (o fazendeiro que, alucinado, deu um tiro na vaca que invadiu a roça de outro), os dois poderiam, sem onerar os cofres públicos, dar seguimento às desavenças anteriores, brigarem à vontade. E, como no boxe, que vencesse o melhor.


A outra solução é mais emocionante. Dois velhinhos, adeptos da bengala, poderiam travar um duelo para esclarecer uma questão que nos inquieta: quem tem razão nesse imbróglio todo?


Como sabemos, um velhinho agrediu Zé Dirceu, tentando fazer justiça não com as próprias mãos, mas com a sua bengala. No dia seguinte, outro velhinho, indignado ou triste pelo aviltamento da instituição (a bengala em si) desafiou o primeiro para um duelo de bengaladas.


Duelo que poderia se realizar no Maracanã ou no Morumbi, ao primeiro sangue (o que evitaria um desenlace letal), cuja renda reverteria para o Fome Zero.


Seria uma solução quase incruenta, a primeira gota de sangue que brotasse num dos velhinhos decidiria a questão. A menos que Zé Dirceu continuasse despertando os instintos mais primitivos em Roberto Jefferson.




Folha de São Paulo (São Paulo) 05/12/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 05/12/2005