Na sua elegância habitual, mas suas boas maneiras pedagógicas, o presidente Luís Ignácio da Silva, por alcunha o Lula, declarou à imprensa que os juros sobem porque os brasileiros não levantam o traseiro da cadeira.
Não poderia ser mais oportuno para fortalecer a dupla ítalo-brasileira Palocci e Meirelles, os ditadores do Copom, o instrumento de geração do aumento dos juros, sempre sob o pretexto de manter baixa a inflação.
Sabem os economistas e as donas de casa que a inflação não reclama uma ação revolucionária, digamos, um dos muitos instrumentos que a França põe em movimento para manter baixa a inflação, para corrigir erros da administração pública e para manter seu povo coeso em torno dos partidos que compõem sua lista de agrupamentos eleitorais.
Não se trata, portanto, de um órgão como o Copom, mantido a duras penas pelos seus dirigentes e membros, que depende a inflação, mas de uma política geral econômico-financeira bem estruturada.
No Brasil já se fizeram numerosas experiências com juros, moeda, mudança de moeda, leilão de dólares e outras, que seria longo comentar nos limites de um editorial. Mas o que ninguém fez, efetivamente, foi adotar política de austeridade e de boa compleição, que mantenha baixa a inflação, o dólar sujeito às suas oscilações de moeda ainda que forte, em suma, uma desburocratização avançada, enérgica, mesmo, ao contrário do que faz o PT, que constituiu um exército de reserva, não o marxista, para eleger o líder do mundo, o presidente Lula, de quem se faz com notórios elogios.
Não é portanto o brasileiro que não age. É o Brasil que não é um governo bastante moralmente e tecnicamente forte para conduzir o barco do Estado ao seu destino, que é o de proporcionar o bem ao povo, sem inflação, sem mudança de moeda, sem o exercício ditatorial do Copom, esse órgão que brinca com os juros como Charlô brinca no seu filme, com o mundo, com o qual joga para cima e para baixo.
É isso que temos a dizer sobre a declaração bem educada de um chefe de Estado de uma grande nação, não de uma republiqueta de bananas.
Diário do Comércio (SP) 2/5/2005