Graças ao controle remoto, costumo ver diversos programas e filmes numa mesma noite, mas dificilmente pego o início deles e mais dificilmente ainda vou até o fim. Numa dessas incursões, apanhei uma boa entrevista do Lula com o presidente da CUT, cuja cara e nome não guardei.
Ignoro como o tema começou entre os dois. Devia ser a questão dos juros, e Lula confessou, com um humor condescendente, que a sogra dele, certamente a mãe de dona Marisa, fazia pequenos empréstimos no banco porque gostava de ter sempre algum dinheirinho em casa, provavelmente no colchão, no que estaria seguindo o exemplo do Severino, que também pratica o mesmo e saudável tipo de poupança ou esporte.
Lula garantiu que já explicou para a sogra o inconveniente de pagar juros num banco para ter o tal dinheirinho disponível no colchão ou no bolso. Tecnicamente, ele está certo, certíssimo. Apesar disso, parece que a sogra dele não foi na conversa do genro presidencial, que recentemente nos aconselhou a todos, sogra e demais compatriotas, a movimentar o traseiro em busca de juros menores.
Contudo dou razão não ao presidente, mas à sua sogra. A não ser em caso de grandes quantias, que é perigoso guardar em casa, é bom saber que temos algum sem precisar recorrer aos caixas eletrônicos, geralmente problemáticos, ou às filas, que nem chegam a ser problemáticas, são mesmo de amargar.
Os juros que a sogra do presidente paga podem até ser altos, mas os empréstimos que ela faz devem ser pequenos -a segurança de ter dinheiro no colchão compensa o prejuízo. Na questão dos juros que infelicitam a nação, impedem os investimentos e fazem os bancos lucrarem tanto, o absurdo é que estão sendo cobrados para impedir a inflação. Mas oneram as empresas, que passam o custo dos juros para o preço final dos produtos e serviços, o que vem dar na mesma.
Folha de São Paulo (São Paulo) 04/05/2005