Uma das figuras mais sinistras da democracia representativa de sufrágio direto, secreto e universal é o cabo eleitoral. Tipo perfeito para filmes de horror, é o bajulador de um político de relativo prestígio, que tem como profissão o engano dos trouxas, que se deixam ilaquear com promessas que não se cumprirão nunca, sobretudo porque não são prometidas para serem cumpridas no futuro remoto, se o chefão for eleito. Leio no Jornal do Senado (impresso no melhor papel dos jornais do Brasil), que o Senado aprovou a Medida Provisória que criou 2.793 cargos na enxudiosa burocracia do sistema federal. O presidente Lula, formado pelos marxistas-lenistas, quer um Estado extensamente burocrático, e, por MP, não por projeto de lei, impingiu à nação, já sofredora, já sofregante ao peso dos milhões de desempregados, o salário mínimo irrisório, e outras inconveniências, como essa avalanche de cabos eleitorais.
Venerável e notável, pela argúcia com que observou as sociedades e fixou no papel as suas observações, o admirável e notavel Max Weber deveria estar vivendo no Brasil, para o grande sociólogo germânico como se estenderia, ainda mais do que fez em sua grande obra, sobre a deformação do vocábulo teológico carisma, analisando principalmente o Estado patrimonial, quando se torna propriedade de um grupo, que o tomou por eleição ou golpe.
Tenho admiração por Lula, o modestíssimo pau-de-arara que veio do nada e chegou à máxima altura da Presidência da Republica. Por isso mesmo, por ter sido contemplado com um destino único na historia de nossos dias, deveria cuidar bem da sua administração e não ceder a cabos eleitorais, a apaniguados, a aproveitadores de sua tolerância, de sua convicção democrática, de sua retumbante vitoria, que deveria ser bem aproveitada. Tenho pena da nação, por isso tudo e mais ainda.
Diário do Comércio (São Paulo - SP) 11/05/2004
Imprimir