Pensamento único é uma droga, mas pior mesmo é o assunto único. Contudo é impossível escapar dele. Não se trata de um sentimento corporativo da classe jornalística, muito menos de pinimba especifica contra um governo que, depois de se mostrar desorientado, começa a se mostrar desastrado.
A expulsão do jornalista do jornal "The New York Times", sem dúvida um profissional também desastrado, coloca o Brasil do PT na mesma situação de países ridículos, geralmente em vigência de regimes totalitários. Para todos os efeitos, a atitude do governo passou recibo da suspeita que todos tínhamos e que ficou explicitada na reportagem publicada pelo jornal nova-iorquino.
O caminho natural para punir o jornal e o jornalista seria o processo, que, nos Estados Unidos, é levado a sério e, como subproduto, funcionaria como um petardo na vestalidade daquele jornal, que não faz muito foi obrigado a se desculpar pelas gafes que cometeu. Volta e meia pratica um tipo de imprensa marrom, mas não perde a pose de árbitro mundial, decretando o que é bom e o que é mau, dando nome às coisas, como um novo e autonomeado Adão.
Os juristas consultados pelo governo e que aconselharam a expulsão do jornalista sofrem da doença infantil que ataca o PT toda vez que o partido enfrenta um ataque - não importa se justo ou injusto: expulsam o dissidente ou o contraditório.
Não é de agora que se comenta a tendência do presidente Da Silva pelas bebidas consideradas fortes. Durante a campanha eleitoral, em pelo menos um episódio que se tornou público, o comportamento de Da Silva mereceria o teste do bafômetro, pela atitude impensada que tomou, abandonando um almoço intempestivamente.
A expulsão do jornalista do "NYT" - perdoem o clichê- foi um tiro no próprio pé. Lá fora, será considerado bom de copo - o que não chega a denegrir nem o Brasil nem a ele próprio. Mas, aqui dentro, perderá um naco importante de sua credibilidade pessoal.
Folha de São Paulo (São Paulo - SP) 13/05/2004