De todas as cidades do mundo que conheço, e são muitas, a que tem o pior transporte coletivo é o Cairo. Os ônibus que circulam na cidade e transportam os cariotas devem ter muitos anos de tráfego, e sempre deficiente.
Digo, mesmo, que é preciso coragem para tomar um daqueles veículos, que dão a impressão de que vão se desfazer numa daquelas ruas bem traçadas. O cariota usa o veículo por não ter outro meio de transporte. É um risco, ele sabe, mas não há o que fazer.
Depois do Cairo, não me lembro de outro serviço de transporte público lastimável como o de São Paulo. O que a mais rica cidade do país conta é sucata, provavelmente nem mesmo os sucateiros da cidade quererão comprar os veículos que transportam milhões de passageiros por dia. A maioria que os toma para ir ao trabalho e voltar para casa, finda a jornada de esforço para ganhar a vida, essa maioria não tem outro recurso senão arriscar-se ou a ser mal acomodado.
Numa carta a um dos jornais paulistanos, um condutor de ônibus informou a seu passageiro que o incomodava nos péssimos coletivos da cidade são as baratas.
O certo é que o pior ato praticado pelo saudoso prefeito e grande advogado Abrahão Ribeiro foi ter constituído a CMTC. Verdadeiro sorvedouro de dinheiro, era, também um parque vultoso de sucatas, tal o desleixo dos dirigentes e empregados de manutenção dos veículos em mantê-los em ordem, asseados e com segurança conferida todos os dias.
Bastaria mandar a Londres dois ou três funcionários de categoria para verem o que é um serviço de ônibus, que pode receber da rainha aos maiores membros da aristocracia britânica, que serão bem acomodados. Não queremos tanto, mas sim um serviço decente, que não desmoralize a capital econômica do país.
É o que desejo venha a fazer o prefeito há pouco em exercício e capaz de realizar uma obra merecedora de crédito dos paulistanos. Não é querer muito, sobretudo para nos distanciarmos mais do Cairo e de seus ônibus.
Diário do Comércio (São Paulo) 10/05/2005
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