As diversas religiões e seitas dominantes no mundo oriental sempre estiveram em moda. Não contam com muitos praticantes entre nós, só conheço um, que é monge budista e com quem trabalho diariamente na CBN. É um sujeito bacana, culto e honesto em tudo o que faz e pensa.
Mas são inúmeros e crescentes os admiradores do Oriente e de suas religiões. "Ex Oriente lux" -do Oriente vem a luz- um ditado que aprendi em criança. Nos meios artísticos e alternativos, o Dalai Lama é uma espécie de papa, embora sofrendo a concorrência do Santo Daime, que fascina os mais radicais, ou os mais desesperados.
É exatamente do Dalai Lama que vou falar. Nem contra nem a favor. Trata-se de um líder religioso que não desdenha o diálogo, o ecumenismo proposto pela Igreja Católica, pode-se contar com ele para qualquer movimento que promova a paz e a boa vontade entre os homens de todas as raças e credos. Em certo sentido, é um dos santos do mundo moderno. Mesmo os não-budistas o respeitam.
Recentemente, em pronunciamento oficial, com sua bela e diáfana túnica cor de laranja, e de mãos postas, como recomenda o ritual de sua religião, ele condenou o aborto, a eutanásia e... as churrascarias! Ainda não se manifestou sobre a camisinha e as células tronco -mas é possível que chegue lá.
Para usar uma palavra em voga, fiquei "perplexo". Os últimos papas têm sido criticados, pela intellingentsia e pelos teólogos de barba, porque condenam as mesmas coisas, o aborto e a eutanásia. São considerados sobreviventes das trevas da Idade Média, quando ainda não havia churrascarias.
Por isso, não estão incluídas na maldição pontifical. Mas os papas foram agora atropelados pelo Dalai Lama, que colocou as churrascarias entre as mazelas de uma humanidade desorientada pela luxúria, pela gula e pela simples e bastante ignorância.
Folha de São Paulo (São Paulo) 15/05/2005