A primeira lembrança de José Veríssimo vem à minha memória a partir de uma visita feita à Oficina Literária Afrânio Coutinho (Olac), no Leblon. Discutimos o futuro da educação brasileira e o grande crítico literário me aconselhou a ler o que pensava o autor paraense, nascido em Óbidos, em 1857. Havia idéias que, já naquela época, se adotadas continham uma nítida característica de modernidade. O nosso grande Afrânio subiu as escadas da sua biblioteca e trouxe lá do alto um volume fininho, mas denso, que me deu carinhosamente de presente. Jamais me afastei dele. Era sobre a educação brasileira.
Depois, pude me deter mais sobre a vida e a obra de José Veríssimo, que chegou a estudar engenharia no Rio de Janeiro, sem concluir o curso, voltando para o seu Estado, onde fundou e dirigiu a Revista Amazônica. Autor de diversos ensaios sobre a Amazônia, retornou ao Rio, onde exerceu o magistério na Escola Normal e no Colégio Pedro II. Foi fundador e primeiro ocupante da Cadeira nº 18 da Academia Brasileira de Letras.
Como crítico, acompanhou no Jornal do Brasil as reformas implantadas por Benjamin Constant em 1890, quando nasceu o primeiro Ministério da Instrução Pública, Correios e Telégrafos. Foi a base do seu clássico A educação nacional, editado em 1906. Não se deteve apenas nas insuficiências da educação escolar, mas repassou com uma límpida visão de sociólogo muito da realidade de uma vida doméstica e social do Brasil daquele tempo, com os vícios que a corrompiam, e que o secular regime da escravidão havia arraigado profundamente nos nossos costumes.
José Veríssimo dirigiu a terceira fase da Revista Brasileira, de 1895 a 1899, e na ABL recebeu João Ribeiro em 30 de novembro de 1899, tendo sido secretário-geral de 1909 a 1912. Chegou a presidir a Academia nas diversas ausências de Rui Barbosa e participou de acaloradas discussões sobre filosofia e questões ortográficas.
Faleceu em 1916, deixando notáveis obras como a História da Literatura Brasileira. Constituiu com Araripe Jr. e Sílvio Romero a trindade crítica da era naturalista, com pontos de vista bastante distintos. A sua crítica tem a permanente presença do equilíbrio e da ordem, a que ele juntava pensamentos filosóficos e morais, reforçando o crítico no educador. Para ele, criticar é compreender.
Deixou diversos estudos e ensaios, como Cenas da Vida Amazônica, A Amazônia, e, na Pedagogia, A instrução pública e a imprensa. Foi um crítico da escolha de Benjamin Constant para a Pasta da Educação, citando a sua falta de competência, apesar da "benemérita inspiração superior com que executou a sua tarefa." A reforma dos ensinos primário e secundário, em 1890, pecou pela excessiva liberalidade dada aos Estados e Municípios, já na ocasião sem recursos financeiros para essas tarefas.
Assunto ainda oportuníssimo, criticou a prevista gratuidade nos estudos superiores, sem um meio adequado de fiscalização dos cursos. Trazendo para os dias de hoje, a crítica permanece atualíssima, o que dá bem a dimensão do pensamento avançado do grande educador brasileiro, que se manifestou favorável à ação do Estado, sem abrir mão da colaboração da iniciativa privada.
Diário do Comércio (São Paulo) 17/05/2005
e Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 16/05/2005