Antes mesmo que o MEC desse à luz a nova versão da reforma universitária, com 67 alterações no projeto original, o UniFMU de São Paulo, por intermédio do Imae, realizou um debate sobre os desafios prementes da educação brasileira. Dele participaram membros do Conselho Nacional de Educação, como os professores Roberto Bezerra (presidente) e Edson Nunes (presidente da Câmara de Ensino Superior), além do prof. Ronaldo Mota, diretor de educação à distância do MEC, e membros do Imae, que é presidido pelo prof. José Aristodemo Pinotti.
Não era para levantar conclusões, mas para expor idéias muito claras sobre as questões que perturbam o bom andamento da reforma em que se empenham as nossas autoridades. Deseja-se a modernização em todos os níveis e graus de ensino, assim como é a preocupação geral a busca da qualidade (padrão de excelência), o que só pode ser alcançado com professores e especialistas mais bem formados e percebendo, pelo trabalho, salários compatíveis.
Discutiu-se com muita ênfase a duração de cursos superiores, uns de quatro anos quando podem ser dados em dois, desde que haja uma sensível melhoria no ensino médio, o que pareceu a todos uma prioridade a ser considerada, dados os seus baixos níveis de apreensão de conhecimentos. Não cabe à Universidade fazer esse tipo de correção, pois é desperdício. Cada coisa no seu tempo e seu lugar. Devemos ter um ensino médio de melhor qualidade, e pronto.
Há uma indiscutível certeza de que vivemos com excessiva regulamentação. A febre da Medida Provisória parece ter contagiado a nossa sociedade. Para tudo há leis, portarias, decretos, num delírio este sim tipicamente subdesenvolvido. Nada disso contribui para melhorar a carga horária do que ministra nos cursos superiores. Dados recentes comprovam que os nossos alunos de cursos superiores recebem exatamente a metade dos conhecimentos que são oferecidos em países da Europa, da Àsia e dos Estados Unidos. Quando se aborda o problema da internacionalização (ou globalização), em que a competição é pra valer, como podemos nos ombrear com tais nações se os nossos recursos humanos saem bem atrás, nesse revezamento cultural?
Por outro lado, não adianta disfarçar uma realidade patente: aumenta o número de ofertas de vagas, mas a renda média brasileira diminuiu, com exceção do Estado de São Paulo. Assim, fica difícil aproveitar melhor a inequívoca criatividade do povo brasileiro. A renda limita nossos esforços.
Na mesma ocasião do debate, que contou com a participação do professor Edevaldo Alves da Silva, ficou comprovada a necessidade de atuar mais pesadamente na educação à distância. Já temos cerca de 310 mil alunos envolvidos nessa modalidade, que custou a pegar no Brasil, mas agora cresce de forma inexorável. A sinergia entre a educação presencial e a educação à distância começa a ser realidade entre nós, que custamos a assimilar essa necessidade.
Enfim, os problemas não são de simples solução. Eles partem da educação infantil (ainda precária), percorrem as agruras da educação básica, para desaguar na qualitativamente insuficiente educação superior. Será que o futuro nos reserva boas surpresas?
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro) 30/05/2005