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Guerra nas Estrelas

 

Homem fantasiado de Darth Vader assalta cinema. Um homem com a máscara do vilão do filme "Star Wars" assaltou uma sala de cinema em uma cidade norte-americana. A polícia de Springfield (Illinois) informou que ele entrou no cinema, empurrou um funcionário e depois fugiu levando o dinheiro da bilheteria.


Folha Online, 24.05.2005


Muito tempo atrás em uma galáxia muito, muito longínqua... (da apresentação do filme "Star Wars", de George Lucas) 

 


Ele era fã de "Guerra nas Estrelas". Fã só, não; ele era fanático por "Guerra nas Estrelas". Já tinha visto cada um dos filmes da série pelo menos umas 20 vezes. Sabia de cor a biografia do diretor George Lucas, colecionava fotos dos personagens, tinha games sensacionais, mostrando tanques Wookies lutando contra hordas de guerreiros Gungan. E por último, mas não menos importante, tinha as roupas dos principais personagens, Obi-Wan Kenobi, Palpatine e, claro, Darth Vader. Passava o dia em casa entretido com essas coisas.


O que até seria compreensível se fosse criança. Não era. Tinha 32 anos, estava casado há cinco e com um filho pequeno. Quem sustentava a casa era sua mulher, que, para isso, precisava manter dois empregos. Mulher reservada, trabalhava muito, sem se queixar. Um dia, porém, explodiu: foi quando ele usou o pouco dinheiro que restava do orçamento doméstico para comprar um sabre de luz. Você é um irresponsável, ela gritava:


- Mal temos o que vestir e o que comer e você gasta dinheiro nestas bobagens! Você não tem jeito, mesmo!


Sabre de luz na mão, ele ouvia, ressentido. Aquela mulher não o compreendia, não se dava conta de que "Guerra nas Estrelas" era a coisa mais importante na vida dele. Chegou a pensar em ir embora. Só não o fez por duas razões. Primeiro, porque não tinha para onde ir. Segundo, porque acabou dando-se conta de que a mulher não deixava de ter razão. De que lhe adiantava ganhar a guerra nas estrelas, se estava perdendo a guerra que, como marido e pai, deveria travar aqui na Terra? "Guerra nas Estrelas" deixara-o transtornado, estragara sua vida.


Precisava fazer alguma coisa. E aí lhe ocorreu assaltar um cinema. Com o que mataria dois coelhos com uma só cajadada (ou golpe de sabre de luz). Em primeiro lugar, estaria se vingando daquela diabólica arte que, no escuro das salas de projeção, corrompia corações e mentes. Ao mesmo tempo, arranjaria uma grana que, considerando as multidões atraídas pelo sucesso do filme, não deveria ser pouca.


Só que, para proceder ao assalto, precisaria estar disfarçado. Disfarçado como? Enquanto buscava uma resposta, seu olhar caiu sobre a fantasia de Darth Vader. Ali estava a resposta. Como Darth Vader assaltaria o cinema. E, depois do assalto ao cinema, outros se seguiriam. A mulher não se queixaria mais da falta de dinheiro. E ele poderia viver em paz, sonhando com o dia em que, numa nave espacial, seguiria viagem para uma galáxia muito, muito longínqüa.


 


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 30/05/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 30/05/2005