O imbróglio China e Brasil, aparentemente resolvido, merece algumas reflexões. Do lado chinês, temos a sua legendária paciência. O chinês aprende, desde criança, a ter paciência, em tudo, na vida, da infância até a morte, O chinês não perde a paciência por nada deste mundo e, em revide, usa a sua arma preferida com tal perícia que o adversário acaba vencido, se também não agir com paciência. É uma luta das mais duras, mas que, no comércio internacional, tem de ser travada entre as partes.
No atual entrevero do antigo Império do Meio com o afoito Brasil, o que temos é uma total má fé, a menos que me dêem outro nome para a ação da China. Os calmos orientais estão forçando Brasília a admitir que tenha errado, que não exporta mercadoria devidamente avaliada e fiscalizada, acarretando, por esse meio, prejuízo ao grande império, ainda comunista oficialmente, mas, na prática, bem a sua maneira, capitalista tanto ou mais do que os Estados Unidos.
O Brasil é hoje, como se sabe, o maior exportador de soja do mundo. De parte alguma nos chegaram reclamações sobre a qualidade de nossa mercadoria e do rigoroso tratamento recebido pela soja brasileira, no seu fornecimento aos demais países compradores. Se já fizemos alguma maroteira, algum exportador mal avisado de como se deve comportar, essa é uma hipótese, ou seja, realidade, de passado remoto, que não deve pesar no Brasil de nossos dias.
Nessa luta de dois negociantes, um, o campeão da paciência e da sua solercia pelo uso dessa força, quando bem manejada, o Brasil deve manter-se tranqüilo, exportando a soja para o Império do Meio com prudência, a fim de evitar a má fé dos importadores chineses, que acabarão por aceitar a nossa mercadoria, por dela terem necessidade. Não se trata de agir mal, porém de agir bem, com um cliente que usa de argumentos dos quais tem prática neste privilégio, com finura e obstinação. É o caso em questão.
Diário do Comércio (São Paulo - SP) 23/06/2004