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A base das bases

 

De uns tempos para cá, em busca da governabilidade, que deveria ser um instrumento, e não um fim em si mesmo, os governos gastam tempo e espaço de poder tentando formar e manter o que eles chamam de "base", ou seja, um conjunto de forças políticas que no Congresso ou fora dele garantam apoio ou submissão às ações que pratica ou que deixa de praticar.


O caso de Lula é exemplar e até exagerado. Só para lembrar de dois momentos que são considerados os mais importantes de nossa era republicana, citaria o de JK e o do segundo governo de Vargas. Não tiveram bases, ou pior, tiveram bases contra eles, bases que se marcaram pelo histerismo e pela conspiração.


JK, já lembrei recentemente os episódios, enfrentou uma oposição hostil e, além disso, foi ameaçado de seqüestro e teve contra si duas revoltas militares que se concretizaram em duas tentativas de golpe -em Jacareacanga e em Aragarças. No entanto cumpriu suas 30 metas, acrescidas de mais uma, a construção de Brasília. Deu ao Brasil o seu momento de maior euforia.


Ao voltar a governar o país, já em regime constitucional, Vargas conseguiu concretizar projetos que nem tentara em sua fase ditatorial. Pagou altíssimo preço por isso, mas completou de forma brilhante o que apenas esboçara na parte não-podre do Estado Novo.


Basta lembrar a astúcia, que alguns consideram genialidade, da aprovação da lei que criou a Petrobras. Sabendo, por instinto, que o seu projeto jamais passaria pelo Congresso, onde tinha uma base precária, agiu de tal forma que obrigou a oposição a alterar alguns artigos até conseguir o resultado que desejava: o monopólio estatal do petróleo, a própria Petrobras em si. Somente depois da aprovação seus opositores caíram em si e perceberam que haviam feito o que o presidente desejava. Inteligência e habilidade são para essas coisas.


Lula não tem projeto de magnitude igual. Quer formar uma base para miudezas e para garantir um segundo mandato.


 


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 06/04/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 06/04/2005