Uma democracia só se firma e se desenvolve, consolidando-se como uma instituição, quando tem uma imprensa livre a publicar, com critério e oportunidade, todos os assuntos que dizem respeito à opinião pública. O New York Times publica que tudo deve ser publicado, ou seja, tudo quanto interessa à opinião pública saber, comentar e reagir, se necessário for. A esse respeito, dão lições os franceses, que saem às ruas para as comunas e outras invectivas contra os governos.
Não somos feitos da mesma argamassa. Temos a pausada calma dos mantenedores da paz. Mas já temos demonstrado que também reagimos e que sabemos nos defender quando é preciso, quando os nossos brios são ofendidos por adversários tenazes na ofensa. Baste para comprová-lo a revolução de 32, uma verdadeira epopéia, em que todo o povo paulista se levantou contra Getúlio Vargas e sua recalcitrância em ofender o povo paulista, com seus interventores militares, o primeiro, mesmo, um capitão recentemente promovido de tenente.
Foi quando o povo insatisfeito quis um interventor civil e paulista, que Getúlio Vargas, muito de seu feitio, lembrou-se do velho Pedro de Toledo, antigo embaixador na Argentina, e o chamou para a interventoria. Mas Pedro de Toledo estava já na fase da aposentadoria, tendo feito enorme esforço para dar conta de sua missão, na sua terra, a terra paulista, que vinha sendo ofendida por Vargas e seus capatazes. Foi sob seu governo que São Paulo se levantou em armas e só não venceu as divisões de Getúlio Vargas por motivos demasiado sabidos.
Mas São Paulo deu uma estupenda lição de democracia, que iria se repetir mais tarde, pois em história quinze anos se conta como um piscar de olhos. Finalmente, com a deposição de Getúlio Vargas, no dia 29 de outubro de 1945, foi possível encaminhar o país para a democracia, que veio com Dutra, o próprio Getúlio pelo voto popular, e Juscelino, este um verdadeiro professor de democracia. Para tudo concorreu a imprensa que, na sua história em nosso país, demonstra estar à altura de sua missão e, felizmente, é bem compreendida pelo povo e pela classe política, com algumas poucas exceções.
Diário do Comércio (São Paulo - SP) 29/06/2004