Foi a capacidade de comunicação, a imagem da fé, luminosa em sua personalidade. O papa que acaba de partir para a morada do Pai tinha várias qualidades, todas amplamente demonstradas durante sua longa vida e seu pontificado, acima do normal de seus antecessores. Onde, porém, destacou-se João Paulo II foi na comunicação.
Não era o carisma, entendido em sentido teológico não sociológico, era a extraordinária capacidade de se comunicar com as multidões que corriam para ouvi-lo com sua voz sonora, voz de quem poderia, se outra fosse a sua carreira, impor-se como tenor, tão bela e convincente era ela.
Não é fácil a comunicação. Depende de um dom, que o cantor cultiva com paixão. O papa João Paulo II, que, na juventude teve a oportunidade de atuar em cenas teatrais, tanto gostava de representação e de teatro, era um comunicador fora de série.
Outro comunicador, que formou com o papa um par de atuadores sociais e políticos, foi o presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan. Curiosamente, tinha sido ator na juventude e como ator adquiriu a perícia em se comunicar, para manter-se no emprego e na representação de alguns papéis que o fizeram admirador em séries de filmes western.
O que chama a atenção é que os dois maiores líderes de nosso tempo, um na Igreja, outro na primeira potência do mundo, foi o combate ao comunismo. O papa foi trazido do frio. Isto é, da Polônia, então ocupada pelo comunismo e suas divisões impositivas contra os rebeldes, como eram os poloneses. O outro saiu de Hollywood e de seus interesses particulares, para a eleição vitoriosa e sua reeleição, e um em cada lugar que lhe coube pela Providência, derrubar o quinhão terreno do diabo, por setenta anos.
Esse o sentido da comunicação e como foi ela usada por duas grandes figuras, dois personagens da história do mundo moderno, contra uma potência totalitária, finalmente abatida. Cremos ter sido explicativos.
Diário do Comércio (São Paulo) 11/04/2005