Abre-se agora na Igreja a fase da escolha do sucessor de João Paulo II. Cerram-se as portas da Capela Sistina para o conclave - o único que conhecemos no seu exato sentido etimológico - e os cardeais com direito a voto vão debater o problema com a intenção de servir a Igreja.
A monumental obra de von Pastor dá a idéia de como se realizam as eleições, e um filme, as Sandálias do Pescador reconstitui bem o funcionamento da câmara eleitoral formada pelo mais alto areópago do mundo.
Não será fácil, evidentemente, um sucessor para João Paulo II. Diremos, mesmo, que é extremamente difícil encontrar-se outro pontífice com as suas qualidades, de humildade, de comunicação, de viagens para fins apostólicos. Os cardeais procurarão, provavelmente, eleger o mais jovem, no momento, segundo nos consta, arcebispo de Lyon e primaz das Gallias. Ou deixarão de lado essa opinião de alguns ou mesmo de numerosos cardeais, pelo mais capacitados para receber uma herança incomum do grande papa, levado à carreira eclesiástica pelo príncipe cardeal Adan Sapieha, com parentes próximos aqui em São Paulo.
O novo papa já encontra um rol de questões que terá de enfrentar, sem criar atritos dentro e fora da Igreja. Poderá ser de uma ordem religiosa ou secular, mas sua disposição para uma luta sem tréguas deverá exigir dele a coragem, a profunda formação teológica e filosófica, que o habilite a ser um herdeiro à altura do pontífice que abalou o mundo com seu pastoreio e, ao morrer, reunir todos os chefes de Estado ou de governo em torno de seu caixão, e trazer a Roma, para despedida do grande homem e grande sacerdote, membros de várias religiões - que lhe deviam respeito - e a vontade de unir todos os membros de todas as religiões, para salvar a civilização em fase de agonia.
Enfim, a Igreja repete a eleição de um papa há milênios, vários, exatamente. A história dos Papas tem duas dezenas de volumes que esgotam a matéria, e toda a tradição filosófica que deve ter sido assimilada e, no curso do pontificado, servir de guia para o chefe da Igreja, num momento histórico em que predominam as conquistas da ciência em escala inédita.
Enquanto a civilização entrou no período da agonia, isto é, da luta para sobreviver e dotar o ser humano de meios para que viva com decência e ordem, como queria São Paulo.
Diário do Comércio (São Paulo) 13/04/2005