O presidente Luís Inácio Lula da Silva afirmou, em Nova York - lugar excelente para afirmações - que o presidente do BNDES, o sr. Lessa, é subordinado do sr. Furlan, ele mesmo titular do Desenvolvimento, e ativíssimo ministro do corpo de colaboradores do chefe do governo. Estão entrando em rota de colisão os dois auxiliares do alto clero do lulismo, quando foi preciso o presidente dizer essas palavras, que agradaram a um e desagradaram a outro.
Estamos, pois, que há no governo há muito tempo, sem que o presidente Lula encontre tempo, alguns minutos, por exemplo, para disciplinar a sua equipe e dar-lhe hierarquia, a fim de que o governo seja não essa quase desordem que observamos todos os dias, mas uma equipe como a do futebol de categoria, bem organizado. Os dois auxiliares diretos do presidente devem ter compreendido a cisão presidencial.
Pois vamos por a colher nesse caldeirão e afirmar, com ela mexendo o feijão, que não haverá hierarquia no PT, no governo petista, no petismo como "ismo" a ser analisado, enquanto o presidente Lula não começar a sua ação pelo MST, uma turma de desordeiros que invade propriedades, enfrenta proprietários, laça bois e os esquarteja, para o churrasco dos messetistas, até se enfartarem e irem para outra baderna no campo, que está convulsionado, mais do que a famosa Jacquerie francesa de séculos passados.
O caso Furlan e Lessa dá bem uma amostra da disputa que joga uns contra os outros dentro do governo Lula. Se supúnhamos que Lula era enérgico, nos enganamos. Mas agora é tarde, a menos que o presidente reaja, com energia, e ponha cada colaborador em seu lugar, com suas atribuições bem conduzidas, no interesse do governo e, portanto, da nação. Se assim não fizer, o presidente Lula acabará desprestigiado, sem autoridade e, provavelmente, não terá forças para concorrer, como deseja, à reeleição. É uma opinião, esta, mas com base em realidade.
Diário do Comércio (São Paulo - SP) 01/07/2004