Portuguese English French German Italian Russian Spanish
Início > Artigos > Idéias gerais

Idéias gerais

 

Não tenho paciência bastante para acompanhar os lances de nossa vida pública, que pessoalmente considero sacais, mas por dever de ofício sou obrigado a tomar conhecimento de alguns deles. Mau observador, desinformado como sempre, volta e meia me espanto com o nosso esforçado presidente, a quem admiro de longa data, desejando-lhe tudo de bom, da mesma forma como ele deseja tudo de bom para todos nós.


Acontece que, aos poucos, ele está se entregando cada vez mais a idéias gerais, lembrando um pouco o finado governador Brizola, que aos poucos foi trocando o palanque pelo púlpito, deixando os abrolhos da administração, da máquina em si, para os segundos e terceiros escalões.


Nada a criticar de suas idéias gerais, que são boas, algumas excelentes, outras discutíveis, mas todas bem-intencionadas. Mas não são de idéias que o país precisa, nem de conselhos para fazer isso ou aquilo. Quem deve fazer isso ou aquilo, ou melhor, isso e aquilo, é o próprio presidente, que prometeu muito, continua falando muito, mas quase sempre em abstrações, como se fosse diretor espiritual da nação.


Não é disso que precisamos. Outro dia, vi na TV o presidente completamente à vontade, como boa praça que é, no meio de muita gente humilde, explicando como se deve plantar e colher, como viver em comunidade, como ajudar a sociedade a vencer a violência, um catecismo simples e indiscutível de como um país pode ser feliz, um manual de bem-aventurança.


Simpatizo cordialmente com esse tipo de profeta, de peregrino que vaga pelos caminhos ensinando o bem e condenando o mal. De dois problemas concretos o presidente tem evitado falar: do MST, que continua na mesma, e do desemprego, que está longe das metas prometidas.




Folha de São Paulo (São Paulo - SP) 26/07/2004

Folha de São Paulo (São Paulo - SP), 26/07/2004