Há uma história popular que é bem elucidada. Quando, numa cidade do interior, foi feita empiricamente uma pesquisa sobre a popularidade do seu prefeito, um sábio local manifestou a sua opinião: aqui a população está bem dividida. Metade acha que ele é um prefeito medíocre, a outra metade acha que ele é um medíocre prefeito.
Recordo o fato para lembrar os oito anos de gestão na educação do Governo Fernando Henrique Cardoso. Que confusão: O seu então ministro sistematicamente vem a público, com sua notória atração pela mídia, para criar a mais impressionante bateria de factóides do País. Uma fértil imaginação.
Escreveu um longo artigo, afirmando peremptoriamente que "a educação brasileira está melhor". Como vivemos numa democracia, apesar da arrogância neoliberal, temos o direito de questionar essas afirmações, com base no que vemos objetivamente em sucessivas visitas a escolas - e no que afirmam os sacrificados secretários estaduais e municipais de educação, que aprenderam a não mentir. Não há ganhos concretos em exercícios demagógicos.
Comemora-se a quase universalização do ensino fundamental, mas há um grande silêncio sobre as saídas (evasão) de crianças depois de matriculadas. Por que houve o aumento de matrículas e uma diminuta inauguração de novas escolas? A resposta é simples: coube todo mundo porque muitos não ficaram, a merenda prometida era pífia (quando chegava) e os livros didáticos distribuídos, depois dos mistérios da escolha dirigida, muitas vezes não saíram de depósitos ou das próprias escolas. Era comum, nesse período, ouvir reclamações do tipo "não sei o que fazer desses livros", "os professores não foram treinados para utilizá-los", "uso um método que prescinde de livros", etc.
O seja, em termos de qualidade, quando se pode medir o aperfeiçoamento de um sistema, a educação nunca esteve tão ruim, no conjunto. É possível que existam bons alunos, na rede pública. Graças a professores dedicados e competentes, que também os há. Mas dizer que o conjunto melhorou é um exercício ficcional de mau gosto.
Não se trata de má vontade com o ex-ministro. Ele também destruiu o ensino médio, que agora está sendo recomposto pelas atuais autoridades. Se quiserem números, recorram aos dados do Saeb 2003 (MEC). Só a língua portuguesa melhorou pouquíssimo, mas ainda ficou na faixa da reprovação dos técnicos. A matemática piorou (para onde vai a nossa ciência da informação), o mesmo ocorrendo com ciências. Crianças da quarta série mal sabem ler, escrever e contar jovens da oitava série não conseguem interpretar o que lêem. São dados oficiais, sem manipulação, cadê a explicação?
Sobre o ensino superior, qualidade virou exceção. O número de cursos criados nos últimos anos do Governo FHC foi uma barbaridade, sob a pressão desmesurada de políticos de todos os calibres. Depois, imputaram a culpa no pobre do Conselho Nacional de Educação, apenas uma vítima de toda essa orquestrada insanidade. Só nos resta mesmo o protesto.
Jornal do Commercio (Rio de Janeiro - RJ) 26/07/2004