Velhíssima questão a da unidade ortográfica do português usado no Brasil e em Portugal. Que a prosódia seja diferente, é natural. Num país imenso como o nosso, há diversas formas de pronunciar as palavras, e o próprio vocabulário admite expressões regionais - o mesmo acontecendo com todas as línguas do mundo.
O diabo é a grafia, sobre a qual os portugueses não abrem mão de escrever "director", por exemplo. Não é o mesmo caso de "facto" e "fato", que têm significações diferentes e, com boa vontade, podemos compreender a insistência dos portugueses em se referir à roupa e ao acontecimento.
Arnaldo Niskier, quando presidente da Academia Brasileira de Letras, conseguiu acordo com a Academia de Ciências de Lisboa, assinaram-se tratados com a aprovação dos governos do Brasil e de Portugal. O acordo previa o consenso de todos os países lusófonos. Na época, somente os dois principais interessados estavam em condições de obter um projeto comum -mais tarde, Cabo Verde também toparia.
Numa das últimas sessões da ABL, Sérgio Paulo Rouanet, Alberto da Costa e Silva e Evanildo Bechara trouxeram o problema ao plenário - um dos temas recorrentes da instituição é a feitura definitiva do vocabulário a ser adotado por todos os países de expressão portuguesa.
Foi então que Arnaldo Niskier, como ex-presidente da Casa, e tendo no passado a colaboração de Josué Montello e de José Sarney, explicou o consenso que ainda não houve, embora aprovado pelos governos do Brasil e português. Na época, Angola, Moçambique e outras ex-colônias enfrentavam problemas de convulsão interna, guerras civis quase intermitentes. Entende-se e lamenta-se que seus dirigentes não possam pensar se devem escrever director ou diretor.
Cristão-novo nesta questão, acredito que não será para os meus dias a solução para a nossa unidade ortográfica.
Folha de São Paulo (São Paulo - SP) 10/08/2004