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Cadeiras que dançam

 

Ouvi dizer que houve aquilo que os colunistas especializados chamam de "dança das cadeiras" na equipe econômica. Na realidade, não são as cadeiras que dançam, mas os seus ocupantes. Uma equipe curiosa, com gente que quer sair e gente que quer entrar. Tudo bem.


Além da dança, o importante é estar afinado com o ministro da Fazenda, que, por sua vez, está afinadíssimo com uma política econômica que se constitui na besta-fera da turma mais autêntica do PT. Não é para menos. Além da política que vem executando, a equipe é um combinado de equipes diferentes.


Lembro o meu espanto quando soube que, num jogo amistoso comemorativo de uma data cívica, o Flamengo iria enfrentar um combinado do Bonsucesso e do Olaria. Por Júpiter! Um combinado assim fez história: perdeu de 9 a 1. E não perdeu de mais porque o juiz encerrou a partida antes do tempo por causa de um sururu na torcida, não na torcida do Flamengo, que estava, como os militares costumam estar, coesa. Mas nas torcidas do Bonsucesso e do Olaria, que não se entendiam dentro e fora do campo.


Que a atual equipe do governo Lula é um "combinado", é. E mais extravagante do que o citado aí em cima, o de Bonsucesso e Olaria. Não se trata de discutir a capacidade de seus membros nem suas origens. O PT gastou oito anos criticando a equipe de FHC, acusando-a de fazer uma política subordinada aos interesses do capital internacional e permanentemente genuflexa diante do FMI.


E não é apenas o PT ortodoxo que critica a equipe montada por Palocci e abençoada por Lula. Isso sem mencionar a estranha situação do presidente do Banco Central, que faz divertido "pendant" com o Severino, contra quem a mídia armou uma bateria de ridículo. Faço uma declaração de voto: prefiro o Severino.


 


 


Folha de São Paulo (São Paulo) 30/04/2005

Folha de São Paulo (São Paulo), 30/04/2005