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Contradições do guerreiro da luz

 

Amor e combate


OGUERREIRO DA LUZ ÀS VEZES LUTA com quem ama.


Aprendeu que o silêncio significa o equilíbrio absoluto do corpo, do espírito e da alma. O homem que preserva a sua unidade, jamais é dominado pelas tempestades da existência; tem forças para ultrapassar as dificuldades e seguir adiante.


Entretanto, muitas vezes, sente-se desafiado por aqueles a quem procura ensinar a arte da espada. Seus discípulos o provocam para um combate e o guerreiro mostra sua capacidade: com alguns golpes lança as armas dos alunos por terra e a harmonia volta ao local onde se reúnem.


“Por que fazer isto se és tão superior?”, pergunta um viajante.


“Porque, desta maneira, mantenho o diálogo”, responde o guerreiro.


Solidão e dependência


Quando um guerreiro sofre uma injustiça, geralmente procura ficar sozinho, para não mostrar sua dor aos outros.


É um comportamento bom e mau ao mesmo tempo.


Uma coisa é deixar que seu coração cure lentamente as próprias feridas. Outra coisa é ficar em meditação profunda todo o dia, com medo de parecer fraco.


Dentro de cada um de nós existe um anjo e um demônio, e suas vozes são muito parecidas. Diante da dificuldade o demônio alimenta essa conversa solitária, procurando nos mostrar como somos vulneráveis; e o anjo precisa da boca de alguém para se manifestar.


Pressa e paciência


Um guerreiro da luz precisa de paciência e rapidez ao mesmo tempo. Os dois maiores erros da estratégia são: agir antes da hora, ou deixar que a oportunidade passe longe.


Para evitar isto, o guerreiro trata cada situação como se fosse única e não aplica fórmulas, receitas, ou opiniões alheias.


O califa Moauiyat perguntou a Omr Ben Al-Aas qual era o segredo de sua grande habilidade política:


“Nunca me meti em assunto sem ter estudado previamente a retirada; por outro lado, nunca entrei e quis logo sair correndo”, foi a resposta.


Paz e atividade


No intervalo do combate, o guerreiro descansa.


Muitas vezes passa dias sem fazer nada, porque seu coração exige.


Mas sua intuição permanece alerta. Ele não comete o pecado capital da Preguiça, porque sabe onde ela o pode conduzir: à sensação morna das tardes de domingo, onde o tempo passa - e nada mais.


Um guerreiro descansa e ri. Mas está sempre atento.


Um anjo e um demônio


Um guerreiro sabe que um anjo e um demônio disputam a mão que segura a espada.


Diz o demônio: “Você vai fraquejar. Você não vai saber o momento exato. Você está com medo.”


Diz o anjo: “Você vai fraquejar. Você não vai saber o momento exato. Você está com medo.”


O guerreiro fica surpreso. Ambos disseram a mesma coisa.


Então o demônio continua: “Deixa que eu te ajudo.”


E diz o anjo: “Eu te ajudo.”


Nesta hora, o guerreiro percebe a diferença. As palavras são as mesmas, mas os aliados são diferentes.


Então ele dedica sua vitória a Deus. E, com a confiança dos valentes, escolhe a mão de seu anjo.




O Globo (Rio de Janeiro - RJ) 05/09/2004

O Globo (Rio de Janeiro - RJ), 05/09/2004