Ainda bem que a popularidade do presidente Lula aumentou, devido à bolha da economia que está sendo registrada, demonstrando que as coisas, se não estão perfeitas, tendem a melhorar se tudo der certo.
Ainda bem, repito. Seria pior com o presidente em nível de popularidade em baixa, ele que é o eixo de um governo que continua desprezando a paisagem social em benefício dos resultados de uma economia rastreada pelo FMI.
Não vem ao caso discutir a prioridade combatida pelo PT e pelo próprio Lula durante anos. Em países periféricos, boas finanças são necessárias e bem-vindas quando o cenário supera os desafios de uma sociedade como a nossa, com exclusão social, concentração de renda, saúde precária, educação deficiente e violência nas diversas camadas da população.
Já disseram que governar é escolher prioridades. Vargas escolheu um desenho de Estado adequado ao tempo dele e para o futuro imediato que se seguiu. Antes dele, tínhamos um Estado artesanal, amadorístico, que atravessou todo o império e a República Velha. JK escolheu o desenvolvimento, com uma taxa de inflação e de desaprovação internacional que afinal não acabaram com o Brasil.
Os militares garantiram a ordem com um Estado totalitário, mantido pela truculência política e policial. O saldo favorável dos anos de chumbo é polêmico, de qualquer forma teve um custo altíssimo na vida nacional.
Lula e o PT ganharam a preferência eleitoral porque lutaram por uma agenda social que foi esquecida. O Fome Zero e outros programas progressivamente anunciados não colaram. Foi uma tentativa assistencialista, que ficaria bem numa Ong, num montepio (monte piedoso), numa sopa do Zarur tamanho família bancada pelo Estado.
Mesmo assim, as taxas de popularidade de Lula continuam garantindo a normalidade institucional que ninguém contesta. Esperamos que cresça. E apareça.
Folha de São Paulo (São Paulo) 21/09/2004